O que Cristiano Ronaldo foi fazer na Arábia Saudita?

Um dos assuntos que mais movimentaram o mercado esportivo nesse início de 2023 foi a transferência de Cristiano Ronaldo para o Al Nassr, clube da Arábia Saudita.

O tema ganhou bastante destaque pelas cifras envolvidas, visto que, como noticiado, CR7 receberá cerca de R$ 1 bilhão por ano, e também pelo fato de os fãs de futebol e principalmente do atleta questionarem se esse movimento está à altura do que representa o português no mercado do futebol. Afinal, o futebol árabe está bastante longe das principais ligas de futebol do mundo.

Na semana do anúncio, recordo-me de ter tido dificuldades em encontrar sequer uma notícia que defendesse ou minimamente entendesse a transferência do atleta para o clube árabe. E é exatamente por isso que resolvi escrever sobre o tema aqui na Máquina do Esporte.

Cristiano Ronaldo chegou em uma fase da carreira que a entrega fora de campo vale mais do que dentro. E olha que dentro suas conquistas e recordes falam por si só, ou seja, ele não foi contratado para levar o clube a conquistar o Campeonato Árabe ou a Champions League da AFC (Libertadores deles), pois vamos combinar que, se o foco fosse esse, com esse dinheiro todo oferecido a CR7, o clube poderia contratar quase 11 atletas de altíssimo nível que dariam mais rendimento esportivo do que somente o português.

Encaro essa ida do Gajo para a Arábia Saudita como um investimento do país com o intuito de abrir suas portas para o mundo. Um país fechado, recluso, cheio de preconceitos e maus costumes, pode estar vendo na figura de uma estrela mundial a oportunidade de se adequar ao mundo moderno.

Outro dia vi uma notícia que o governo árabe iria fazer “vista grossa” ao fato de Cristiano e Georgina Rodríguez, sua esposa, não serem casados no papel. Isso pode ser o primeiro passo para uma flexibilização maior desse e de muitos outros hábitos.

CR7 e Georgina Rodríguez na apresentação do jogador no Al Nassr – Reprodução

A Arábia está em transformação. Você já ouviu falar de alguém que foi à Arábia Saudita passar férias? Não, né? Sabe por que isso?

Até pouco tempo atrás, o país não emitia visto de turismo. Apenas em 2019, liberaram o visto para cidadãos de 49 nações.

E nesse processo de modernização, o turismo é uma das principais apostas. O governo espera que o setor represente 10% do Produto Interno Bruto (PIB) e atraia mais de 100 milhões de visitantes por ano até a próxima década.

E aí, pergunto: tem garoto-propaganda melhor do que Cristiano Ronaldo? 

O país está abrindo as portas de tal forma que já fala até em candidatura para a Copa do Mundo de 2030.

Sem falar no desenvolvimento do esporte no país. Será que alguém entendeu quando Zico foi para o Japão em 1991? Ou Pelé para o New York Cosmos em 1975?

No caso do Galinho, foi sem dúvida um dos grandes responsáveis pela profissionalização do futebol em terras nipônicas. Eternizado e idolatrado até hoje.

Ídolo do Flamengo é idolatrado até hoje no Japão – Reprodução

Cristiano tem a oportunidade de, por conta da força da sua imagem, mudar o rumo de um país fechado. Quem me acompanha sabe o quanto tenho buscado potencializar o lado dos atletas que pouco valorizam suas respectivas imagens. Aqui na agência buscamos aproximar nossos clientes do mercado publicitário, aprimorar o trabalho digital por parte deles e desenvolver iniciativas sociais.

Cristiano Ronaldo tem grandeza e força de marca para mudar o rumo de um país como a Arábia Saudita.

Fazendo um paralelo: um atleta de destaque aqui no Brasil, que tenha saído de uma comunidade para ganhar o mundo, pode (e até deve) usar a força da sua imagem para mudar o rumo de sua comunidade e/ou bairro.

Mas será que estão olhando para isso?

Bernardo Pontes, executivo de marketing com passagens por clubes como Fluminense, Vasco, Cruzeiro, Corinthians e Flamengo, é sócio da Alob Sports, agência especializada em conectar atletas e personalidades esportivas a marcas, também sócio da BP Sports, agência com foco em intermediação e ativação no esporte, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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