O que é que eu vou dizer lá em casa, Silvio?

Silvio Luiz é o dono dos bordões mais bem-humorados da história da transmissão do futebol no Brasil - Reprodução

Faz praticamente uma semana que soube que não daria mais. Tinha ficado chateado ao saber que Antero Greco estava nos deixando, e fiquei ainda mais quando soube que estava chegando sua hora, Silvio.

Pelo amor dos meus filhinhos, mestre! O que é que eu vou dizer lá em casa???

Não consegui fazer a homenagem em vida, como você sempre disse que queria receber. Em 2018, quando lançamos o 1º Fórum Máquina do Esporte, você me deu a mão, emprestou a sua voz e abrilhantou o evento que foi a salvação do nosso negócio.

Você sabia que eu precisava de ajuda, e só me disse: “Vai lá na rádio que a gente grava”.

Cedeu meia hora do seu tempo, fez a narração do 1º Fórum Máquina do Esporte, chamando todos os nossos convidados, patrocinadores e dando aquele toque mais do que refinado para o evento.

Tentei te convencer a “dar uma passadinha” no Fórum para ver como tinha sido. Era mentira. Queria te homenagear ali, no palco, recebendo uma salva de palmas de pelo menos um minuto de cada um dos mais de 100 presentes. Por tudo o que você representou para quem ama esporte no Brasil.

Você não quis, alegou que estava saindo de casa apenas para ir à rádio e nada mais. Ok, fica para o próximo.

Nos encontramos no Prêmio Comunique-se em 2019, e você me perguntou: “E aí, não vai ter o Fórum para a gente brincar esse ano?”. Porra, Silvio! Pelas barbas do profeta!!! Você não só tinha curtido, como estava querendo um replay?

O problema é que teve tanto entra e sai de palestrantes que adiei a gravação, perdi o timing e você não esteve lá. Nem no Fórum nem na homenagem, que ficou para 2020.

Já tinha até negociado o local de realização do 1º Prêmio Máquina do Esporte. E já estava programado que o prêmio começaria com uma homenagem ao Maior Narrador de Televisão do Brasil. Um troféu com seu nome. Um agradecimento por tudo o que você fez pelo esporte brasileiro.

Era para a gente encher o peito, soltar o grito da garganta e conferir ao vivo e no replay. Todos sabíamos que Foi, Foi, Foi, Foi Você, Silvio!

Maldita pandemia. O prêmio era para ser no fim de março! Não deu.

Bom, de 2024 não passaria. Teríamos o 3º Fórum Máquina do Esporte no primeiro semestre e, no segundo, o prêmio com a merecida homenagem em vida.

Ao cara que foi o primeiro repórter de campo da transmissão esportiva, ainda nos anos 1950. Ao que foi o primeiro narrador de televisão a não brigar com a imagem, mas a assumir a posição de um torcedor de arquibancada conversando com os amigos enquanto assiste ao jogo. A quem nos apresentou o Campeonato Italiano de Carecone e Maradona. A quem foi o primeiro narrador de videogame da Era Moderna no país, isso já perto dos 80 anos de idade! A quem se reinventou e foi fazer uma transmissão paralela na zoeira, no streaming, quase aos 90 anos de idade!

Silvio Luiz, pelo amor dos meus filhinhos, não era para ter ido agora!!!

Até hoje as crianças falam que a Bandeirantes é o canal do esporte por sua causa. E olha que nenhum deles sequer viu um jogo com a sua narração a não ser no videogame!!!

Quando a bola acerta a trave, berramos NO PAAAAAUUUU. Quando olhamos uma barreira, já pensamos logo que estão todos “que nem o Papai Noel”.

Você é enorme, Silvio. Sei que você queria ter visto isso em vida. Mas a comoção que foi sua partida, com poucas horas de diferença para outros dois gênios da comunicação esportiva brasileira, mostram que você é enorme.

Foi, Foi, Foi, Foi Você, Silvio!

Que embalou gerações, que inspirou multidões, que fez entretenimento na transmissão esportiva muito antes de isso ser chamado assim.

Tanto é que você é único.

Ninguém conseguiu captar a sua visão de uma partida.

Foram bons 38 anos como fã das suas transmissões. E a imensa alegria de ter vivido uns 8 anos como parceiro das narrações, estando ao seu lado, nos comentários. Sempre tentei acertar qual bordão você usaria naquele momento do jogo. Falhei miseravelmente todas as vezes. Ninguém sabia olhar o futebol como você.

Obrigado, Silvio.

Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo

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