O que vi e vivi em nove dias no Catar

Ainda no avião retornando ao Brasil, escrevo esta coluna para relatar um pouco do que vi e vivi no Catar. Excepcionalmente neste mês, fugirei em parte do tema central dos meus textos mensais aqui na Máquina do Esporte, que sempre abordam o marketing digital, com seus cases e novidades. Nos parágrafos abaixo, um breve resumo do que encontrei nos nove dias que passei na Copa do Mundo Fifa 2022.

Cheguei em Doha nas primeiras horas da manhã de 20 de novembro, dia da abertura do Mundial. Como já esperava, o aeroporto estava completamente lotado de pessoas desembarcando dos mais diferentes cantos do planeta. Ali, tive a primeira ótima impressão do torneio. Mesmo com uma quantidade gigantesca de passageiros, a organização e a logística, além da simpatia dos funcionários e voluntários, foram perfeitos e consegui, em exata 1h, sair do avião, recolher a bagagem, passar pela imigração, pegar e ativar o chip de celular oferecido gratuitamente aos detentores do Hayya Card (Fan ID desta edição da Copa) e percorrer 20km até a minha acomodação com um motorista de aplicativo.

A acomodação, aliás, também merece um parágrafo especial. A parceria da Copa do Mundo do Catar com a Accor Hotels funcionou perfeitamente no meu caso. Com amigos, aluguei um apartamento perto de uma estação de metrô, e contamos com a ajuda incansável de funcionários da rede internacional de hotéis que davam expediente no edifício para atender aos torcedores. Em um papo rápido com alguns colaboradores da Accor, pude perceber rapidamente que pessoas do mundo inteiro foram escaladas para trabalhar especialmente no torneio. No prédio, falei com gente da Indonésia, do Quênia, da Índia, de Bangladesh, do Sri Lanka e do Zimbábue.

Depois de descansar algumas horas, pois estava ansioso e não consegui dormir no voo, segui rumo ao Al Bayt, estádio da abertura da Copa do Mundo. Bastante distante do centro, a melhor opção para mim era seguir de metrô e depois de ônibus até o estádio. Em aproximadamente 1h30, percorri o trajeto, sempre acompanhado da simpatia de funcionários e voluntários do torneio e da ótima logística. Mesmo na saída, com o fluxo de pessoas mais concentrado, não tive problemas para voltar comodamente para casa.

Na abertura, aliás, uma ativação que fez bastante sucesso nas Copas do Mundo do Brasil e da Rússia se repetiu: a distribuição do copo da Coca-Cola especial do jogo para quem consumisse o produto. Vi muitos torcedores guardando o souvenir. Pensei que a ação fosse se repetir nas demais partidas, mas não encontrei nas outras dez em que estive presente. Até o momento em que saí do Catar, a ação ficou restrita aos duelos da seleção local.

Para fechar o capítulo da abertura, todos os mais de 67 mil torcedores que estiveram no Al Bayt para ver a vitória do Equador sobre o Catar receberam uma sacola com aproximadamente dez souvenirs do Mundial. Sem ativação de patrocinadores no kit de presentes, os fãs encontraram de camiseta ao simpático mascote La’eeb de pelúcia, de chaveiro a lenço, de pulseira a uma pequena estatueta com o logotipo do torneio.

Passada a data da abertura, a Copa do Mundo ganhou velocidade com a sequência da fase de grupos. E algo muito exclusivo deste Mundial, a possibilidade de assistir in loco a mais de uma partida por dia por conta da proximidade entre as arenas. Pude fazer isso em duas ocasiões e comprovar que, com logística de transporte e organização de acessos praticamente perfeitos, foi não só possível, mas muito confortável ver dois jogos no mesmo dia. Escolhi jogos com horários distantes, sempre o primeiro e o último da programação, e pude ver as partidas completas. 

Muito da facilidade encontrada no Catar para aproveitar o Mundial ao máximo, como relatei até agora, se deveu ao Hayya Card e às ferramentas digitais oferecidas aos torcedores, de apps a redes sociais. Com uma versão bastante melhorada em relação à Rússia 2018, o Fan ID foi essencial desde o embarque no país de origem, e as plataformas foram fundamentais aos torcedores.

Aliás, se tem uma virada de chave que foi dada por esta Copa do Mundo, a da digitalização de quase toda a experiência do fã, para mim, é a mais marcante. Sem um smartphone, o torcedor não tinha acesso sequer aos ingressos que adquiriu. Para os compradores de entradas convencionais pelo site da Fifa, a única opção era receber o ingresso digital em um app e inserir o QR Code na leitura da catraca. Obviamente, para exceções, a organização do Mundial tinha um atendimento especial no centro da cidade, e em todos os estádios os ingressos físicos foram emitidos pontualmente*.

O Fifa Fan Festival também merece um parágrafo especial. Mais uma vez, a entidade máxima do futebol acertou no formato do evento e atraiu milhares de torcedores todos os dias ao Al Bidda Park, em Doha. Com telões gigantes para transmissão dos jogos, palco para shows, venda de alimentos e bebidas (ali se vendia cerveja), ótima estrutura de banheiros, uma enorme Fifa Store e até uma área de hospitalidade, os fãs encheram o espaço todos os dias.

Já que citei a Fifa Store, não poderia deixar de elogiar também a enorme variedade de produtos oferecidos aos torcedores em todos os pontos de venda espalhados pelo país, seja nos estádios ou fora deles. Em comparação com as duas últimas Copas, a oferta de souvenirs foi muito maior com produtos do Mundial no geral, desde o La’eeb até aqueles exclusivos das partidas jogadas.

Nesses nove dias que fiquei no Catar, achei a Copa do Mundo Fifa 2022 um sucesso de organização e logística. Da chegada à saída do país, nas 11 partidas que vi e pelo que desfrutei como turista-torcedor, fiquei positivamente impressionado como quase tudo funcionou perfeitamente.

*Na última segunda-feira (28), em publicação no site oficial, a Fifa anunciou que disponibilizará, a partir de janeiro, uma opção aos compradores de ingressos para que adquiram as entradas físicas para guardar como souvenir.

André Stepan é jornalista, pós-graduado em marketing esportivo, especialista em comunicação e conteúdo digital, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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