Opinião: A ilegalidade nas oportunidades de “ouro” do esporte mundial

O artigo de hoje, mais do que uma opinião, tem o papel de denunciar! Portanto, você que está começando a ler, se prepare, porque se você se indignar como eu, vou te pedir para difundir essas histórias com pessoas que você conheça que tenham o risco de passar por esta situação. Caso você já conheça alguém que esteja em situações similares, coloco-me à disposição para ajudar de alguma maneira. Só me contatar via Linkedin ou Instagram, como preferir, porque isso acontece e pode acontecer com qualquer um e a qualquer momento.

Já ouvimos falar sobre tráfico de pessoas algumas vezes, mas o quanto você acha que isso ocorre com atletas? Pois é, muito mais do que a gente imagina. Muitos acabam em condições desumanas, infelizmente.

Em 2019, conheci o presidente de um clube de Valência, que joga a segunda divisão regional e hoje conta com 60 atletas brasileiros. Sua história começou de uma forma muito mais comum do que a gente imagina, quando ele descobriu o mercado negro de tráfico de jogadores de futebol pelo mundo, vivendo a situação na própria pele, ou pior, na pele do seu filho. Menos mal que ele estava acompanhando o garoto, que acabava de ser convidado para jogar num clube da primeira divisão do futebol português.

A questão é que seu filho e mais sete meninos foram enganados por um falso olheiro, e todos acabaram em Portugal sem clube, sem contrato, sem dinheiro, sem moradia, sem ter o que comer, mas não sem esperança. Porque este homem, que acompanhava seu filho, salvou a vida destes garotos até chegar ao ponto de conseguir montar seu próprio clube e arrebanhar outros meninos que passavam pela mesma situação.

Já em 2021, conheci o caso de uma atleta de handebol, que quase foi deportada para o Brasil e quase ficou de fora dos Jogos Olímpicos. Isso porque o clube que a contratou aqui na Espanha não tinha emitido o visto de trabalho dela, sendo que faltava somente um mês para acabar seu contrato. E, pior, ela e suas companheiras de equipe também estrangeiras tinham passado alguns dias sem uma comida decente. Ela me relatou inclusive ter passado fome, porque o clube não pagava nada a elas fazia alguns meses.

Como nossos caminhos se cruzaram, ela não só conseguiu ir para os Jogos Olímpicos de Tóquio, como agora em janeiro está quase terminando um acordo com o clube, já que a ajudei a procurar seus direitos de receber os sete meses que ela não tinha recebido de um contrato de dez meses.

A partir dessas duas histórias, iniciei um movimento aqui na Espanha de identificar mais situações como essas. Outros três casos apareceram em menos de dois meses.

Um deles foi um caso de racismo com uma jogadora brasileira, que foi barrada na imigração na Alemanha, enquanto todas as suas companheiras de equipe tinham sido liberadas. Ela foi levada a uma sala da polícia, sem conexão no seu celular, e depois escoltada, sem seus documentos, até o portão de embarque, absolutamente sem receber qualquer tipo de explicação ou justificativa.

Reportagem sobre o caso de Mariane Fernandes denunciado por sua irmã
Reprodução / Uol

 

Os outros dois foram casos de tentativas de demissão justificadas por lesão não informada previamente ao contrato. Aqui vale uma pausa para uma explicação quase jurídica. Quando você é contratado por um clube ou mesmo uma empresa do mundo corporativo, você passa por um exame admissional, que diagnostica se você está apto a trabalhar. Portanto, como o clube quer justificar que elas já tinham uma lesão não informada anteriormente? Ambas sabiam que, na realidade, o que o clube queria era substituí-las porque estavam de licença médica recebendo tratamento de fisioterapia por outras estrangeiras, já que existe uma cota máxima de atletas de fora da Espanha para jogar a primeira divisão de handebol feminino aqui.

Estou acompanhando de perto também este desfecho, para garantir que ambas ou tenham todos os seus direitos pagos ou possam voltar a treinar pelo clube, sem qualquer prejuízo por lesão, algo que pode acontecer com qualquer atleta e não é de hoje, né?

Eu não sei vocês, mas minha indignação é tamanha que estou totalmente envolvida com os casos que ainda não se resolveram por completo e só vou parar quando tiver certeza de que elas foram atendidas. 

Concluindo, queria chegar ao ponto de que existem representantes, clubes, gestores da nossa indústria que são idôneos e estão, sim, fazendo um bom trabalho. Mas mais relevante ainda é ficarmos espertos a toda oferta muito fácil. Desconfie sempre. Depois que já estiver em negociação, garanta um contrato de trabalho correto, contate outros atletas que estejam neste local e possam te orientar com a experiência deles e sempre procure um advogado para te auxiliar ou o sindicato de atletas da sua modalidade.

Mônica Esperidião Hasenclever é especialista em gestão e marketing esportivo, cofundadora da WES, professora na SporTeach e escreve mensalmente na Máquina do Esporte (sempre tendo como propósito promover a visibilidade da mulher e a inclusão da diversidade em todos os âmbitos e áreas de esporte)

Sair da versão mobile