Opinião: Champions League mostra que futebol ainda tem muito a aprender com ligas americanas

O fim de semana de final de Champions League é especial para qualquer fã de esporte. Evento badalado, a decisão do principal torneio de clubes do mundo centraliza as atenções, mesmo com outros grandes eventos esportivos acontecendo, como o Torneio de Roland Garros, o GP de Mônaco de F1 ou as 500 Milhas de Indianápolis.

Por isso, é imperdoável o que aconteceu no último sábado (28), no Stade de France, em Paris, na final entre Liverpool e Real Madrid. O atraso vergonhoso do horário da partida causou vários transtornos.

Os torcedores que já estavam no estádio tiveram que esperar. O show de Camila Cabello foi prejudicado, já que o público estava muito impaciente para o início do jogo, cantou os hinos de seus clubes por cima da apresentação da cubana e forçou para que o evento pré-jogo fosse rapidamente encerrado e esquecido.

As TVs detentoras dos direitos de transmissão têm horário reservado para a atração, e um atraso de mais de 30 minutos gera desafios enormes aos canais, sejam abertos ou fechados. E se a partida tivesse prorrogação e disputa de pênaltis? O que fariam as emissoras para acertar suas grades de programação com o horário inesperado do fim do evento?

Fora do estádio, milhares de torcedores, que haviam viajado e estavam com ingresso na mão, não puderam ver a partida. Outros levaram até gás de pimenta na cara. Como superar a frustração de não assistir à final com o clube de coração em campo? É algo que nem um ingresso de graça para a decisão da próxima temporada seria capaz de compensar. Não se trata o fã com essa displicência.

Por outro lado, nos vídeos exibidos nas redes sociais, é possível ver intrusos pulando os portões sem nenhuma resistência da atrapalhada segurança. E se houvesse superlotação? A antiga Taça dos Campeões Europeus já viveu a Tragédia de Heysel, que esperamos que nunca se repita. E há um problema mais atual: algum invasor poderia estar portando arma, objeto contundente ou até uma bomba. E teria tido acesso ao interior da arena.

Mesmo quando examinamos os torneios mais bem-sucedidos do futebol, fica claro que ainda há muito o que se aprender com as grandes ligas dos EUA e sua fantástica organização e capacidade de promover o sportainment, termo que, aliás, surgiu por lá para definir eventos que conseguem aliar o grande acontecimento de desempenho esportivo com o puro entretenimento.

No Super Bowl, jamais um show teria sido prejudicado por torcedores inquietos pelo reinício da partida. E todo o público presente no estádio estaria tão interessado nos touchdowns como no espetáculo musical.

Não é preciso ir muito longe. Nesta quinta-feira (2), a NBA voltará a ter no Brasil um espaço presencial de relacionamento com os fãs: a NBA House. De 2 a 19 de junho, o local terá festas em dias de jogos da série final, entre Golden State Warriors e Boston Celtics. Nas datas sem partidas, haverá o Fan Day, no qual a casa oferece diversas atrações ao público e ativações dos patrocinadores.

É uma forma de a NBA se reaproximar do torcedor brasileiro após dois anos de eventos virtuais por causa da pandemia. A conexão emocional entre o esporte e o público é essencial, e os tempos de distanciamento social impostos pela Covid-19 só mostraram como isso é fundamental para qualquer liga. A lição que o esporte dos EUA ensina ao mundo é que não existe esporte sem fãs. Por isso, é preciso sempre tratá-lo muito bem.

Adalberto Leister Filho é diretor de conteúdo da Máquina do Esporte

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