Opinião: Estados Unidos, o país do futebol

É verdade que outros esportes têm maior destaque do que o futebol na América do Norte. Ligas como a NFL (futebol americano profissional), NCAA (só o futebol americano universitário), NBA (basquete), MLB (beisebol), NHL (hóquei no gelo), Nascar e Indy (automobilismo) e esportes como o golfe são paixões mais antigas do que o nosso futebol. Mas nem por isso têm maior impacto econômico.

A concorrência no mercado de esportes profissionais é selvagem. São muitas ligas fortes, bem organizadas, bem administradas e com suportes financeiros invejáveis. Além disso, ainda há uma infinidade de marcas investindo em patrocínios e usando o seu marketing para promover os jogos e seus atletas.

Mas apesar de todas estas barreiras de entrada para os novos esportes, o futebol apresentou um desenvolvimento incrível nas últimas décadas.

O representante mais visível é a seleção americana de futebol feminino, a melhor do mundo há muito tempo. São quatro títulos da Copa do Mundo da FIFA (1991, 1999, 2015 e 2019), quatro medalhas de ouro olímpicas (1996, 2004, 2008 e 2012) e oito Copas de Ouro da CONCACAF. Mas ela não é o único bom exemplo.

A Major League Soccer (MLS), campeonato nacional equivalente ao Brasileirão, começou a ser jogada em 1996. “A criação da liga foi parte de uma tentativa bem-sucedida dos Estados Unidos para sediar a Copa do Mundo de 1994, buscando capitalizar o esperado aumento da popularidade do futebol no país após receber o torneio esportivo mais celebrado do mundo”. Depois de 28 anos em operação e com 29 equipes, a MLS se estabeleceu como uma das cinco grandes do país.

Os números são inquestionáveis. A MLS atrai maior público aos estádios que o Campeonato Brasileiro da Série A (21.873 na MLS em 2022 comparado a 21.237 no Brasileirão de 2019). Uma franquia de futebol (como são chamados os times) não custa menos que R$ 1,6 bilhão, muitas vezes mais caro que clubes tradicionais do Brasil, como o Cruzeiro e o Botafogo.

Todo esse sucesso da MLS não é suficiente para garantir o título de “liga mais assistida nos Estados Unidos”. A taça de campeã fica com os vizinhos do sul. A Liga MX, a primeira divisão do Campeonato Mexicano, é imbatível. Favorecido pelo grande número de imigrantes mexicanos e pelo sucesso recente de alguns de seus principais times, como o Chivas Guadalajara, audiências aumentaram em quase 40% na TV aberta na temporada atual.

Além da MLS e da Liga MX, ainda é possível assistir à maioria dos campeonatos internacionais com frequência em TV aberta ou em um dos muitos serviços digitais. A Premier League, em particular, faz um trabalho excepcional há anos com sua transmissão. Muitos ingleses preferem assistir aos jogos com os locutores da NBC, detentora dos direitos em inglês, do que os comentários originais da Sky no Reino Unido. Também é possível assistir à Ligue 1 francesa, à Seria A italiana, à Bundesliga alemã, ao Campeonato Argentino e até mesmo ao Brasileirão (apesar de não muito popular).

Mas a prova final e inquestionável do sucesso do futebol na América não é a disponibilidade ou mesmo os números das audiências, mas os valores dos contratos de mídia anuais. Nos Estados Unidos, nada fala mais alto do que os investimentos.

Quando somados os direitos pagos pela Premier League, LaLiga, MLS, Serie A e Bundesliga (não está incluída aqui nenhuma das outras muitas ligas internacionais disponíveis), as emissoras americanas investem cerca de R$ 3,8 bilhões por ano.

Esse valor é 72% maior que o que é pago pelo futebol americano universitário, 30% maior do que a NHL (hóquei no gelo), 16% mais do que se paga pelo PGA (golfe) e só 1% menor do que a Nascar. O futebol só perde para o beisebol, o basquete e o futebol americano. Isso sem compará-lo ao faturamento de mídia do futebol do Brasil, onde o investimento total em todos os campeonatos nacionais, regionais e estaduais não chega aos R$ 3 bilhões.

A proximidade da Copa do Mundo da FIFA nos Estados Unidos, Canadá e México em 2026 só deve acelerar o interesse dos torcedores, investimentos de empresas de mídia e patrocínios, além de ampliar a infraestrutura no país. Já é possível imaginar que o futebol se tornará um dos três esportes favoritos dos americanos nas próximas décadas.

Um golaço dos Yankees.

Ricardo Fort é CEO da consultoria SportByFort e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

Sair da versão mobile