Uma das maiores dificuldades de um profissional da comunicação da década de 2020 é compreender a complexidade da mídia atual. Seja para um jornalista, um relações públicas ou um publicitário, o cardápio de opções no mercado vai muito além da escolha de veículo e público-alvo. Ao tentar abraçar esse novo mundo, o futebol brasileiro parece enfrentar algumas turbulências.
O que acontece neste primeiro semestre com a transmissão dos campeonatos estaduais é, no mínimo, curioso. Com o intuito de diversificar a entrega do produto e ter um conteúdo cada vez mais jovem e acessível, alguns produtores parecem ter tomado uma decisão mais drástica: esconder o próprio produto.
É o que tem acontecido no Paulistão. As muitas opções de transmissão parecem desaparecer quando seu time entra em campo. Nem mesmo o Premiere, uma das plataformas de pay-per-view do torneio, cobre todos os jogos. Deve ser um caso único de assinatura de PPV de uma competição com entrega parcial de partidas.
Se quiser assistir a todos os jogos, seja bastante rico. Porque o Paulistão Play custa R$ 34,99, o Premiere, R$ 59,90, e a HBO Max, R$ 27,90. Mais de R$ 100 mensais para assistir a um torneio estadual. Isso sem contar a assinatura de um bom pacote de internet para ter alta qualidade no streaming.
Ou seja, para acompanhar o campeonato, é preciso pagar caro e ter acesso a uma série de meios novos, que limitam bastante a entrega ao torcedor. Ou todas as pessoas têm facilidade, financeira e cultural, de ligar a HBO Max na TV para assistir a uma partida?
É curioso porque a busca por meios digitais é justamente a solução em outros setores. Influenciadores formam o caso mais emblemático, com muito investimento do mercado, muitas vezes com retorno incerto. O que é certeiro é que meios mais tradicionais não chegam a um público cada vez mais relevante, o que torna os caminhos alternativos uma necessidade real.
Esse é o caminho de quem recorria, por exemplo, a revistas especializadas. Elas deixaram de existir, mas o público, não. Até houve um período de limbo. Hoje, não haverá uma marca mais relevante, mas uma série de canais com qualidade, que vão falar para fãs cada vez mais segmentados. É um mundo muito mais complexo.
O futebol não deve, de jeito nenhum, ignorar isso. Esse, aliás, é um erro que foi recorrente nos últimos anos. Para 2022, houve uma série de tentativas de inovação que deveriam ter acontecido antes, seja no formato, seja no meio de transmissão. A maior prova é que as iniciativas deste ano estão muito longe do fracasso. O jogo entre São Paulo e Palmeiras, na última quinta-feira (10), marcava, no dia seguinte, 8,1 milhões de visualizações, algo muito significativo.
Mas é necessário ter uma organização mais efetiva nessa distribuição, para que o futebol não seja uma embalagem deitada no primeiro andar da gôndola que exibe os produtos do entretenimento. Limitar o acesso aos jogos é um enorme tiro no pé.
Hoje, o Paulistão acerta ao se manter na TV aberta e ao apresentar novos modos modelos de apresentação aos torcedores. Mas ainda erra feio ao dificultar esse acesso em outros momentos, com excesso de canais, streaming e preços altos.
Duda Lopes é CEO da Pivô Comunicação e escreve mensalmente na Máquina do Esporte