Opinião: John Textor escancara a “vira-latice” brasileira na gestão

Para começo de conversa: adoro a chegada de John Textor ao ambiente do futebol brasileiro. O americano fanfarrão é um elemento que precisava em algum momento desembarcar em solo nacional para trazer um fato novo que, quem sabe, ajudará a gestão esportiva no país a ser um pouco mais guiada para os negócios do que para a política.

Mas é curioso notar que Textor se tornou uma referência e tem ganhado uma aura de “visionário” por boa parte da mídia e dos torcedores desfilando um show de obviedades em temas como marketing e gestão no esporte.

Neste último final de semana, o americano protagonizou o noticiário com acontecimentos pitorescos.

O primeiro foi ao justificar a entrada do Botafogo na Libra. Textor disse, categoricamente, que seu time tinha de tentar ficar próximo dos grandes e usou o próprio Crystal Palace, time inglês em que é um dos acionistas, como exemplo de clube pequeno que precisa “sentar-se à mesa com os poderosos”.

O segundo foi no domingo (15), ao empunhar a bandeira do Botafogo dentro do Estádio Nilton Santos na excelente vitória sobre o Fortaleza, que manteve o time na parte de cima da tabela do Campeonato Brasileiro e como a melhor equipe do Rio de Janeiro na competição. O choro do executivo ao descrever a emoção que sentia ao ver a conexão com a torcida pareceu ter sido sincero e, definitivamente, ajudará ainda mais na criação do personagem.

O fato, porém, é que Textor não traz nada de novo para o ambiente do futebol brasileiro. Sua visão sobre a adesão do Botafogo à Libra e o que espera da liga em entrevista a Rodrigo Capelo, no site GE, é o mesmo conceito que vem sendo aplicado em todo o mundo há 60 anos, mas que até hoje, no Brasil, foi sufocado por interesses políticos.

Grande parte da mídia confunde as frases de Textor como a opinião de alguém que vive a experiência de gerenciar um clube no exterior. A questão é que o americano nunca esteve à frente de nenhum clube. Textor é apenas investidor do Crystal Palace, que há anos é administrado por Steve Parish. Entrou no clube inglês no fim do ano passado, após colocar dinheiro para sanar parte das dívidas sufocadas pela pandemia.

Sua experiência e fonte de fortuna veio da capacidade de gerenciar empresas quebradas, como a FuboTV, e transformá-las em corporações bem-estruturadas e prontas para serem vendidas. Ele é um gestor prático e eficiente, que sabe usar bem a mídia para dar maior valor aos seus negócios.

O Botafogo tem um enorme potencial para ser mais um grande negócio como esse. E, para isso, Textor sabe que o ambiente no futebol brasileiro precisa ser mais sólido na área do negócio do que na política.

O lado bom, para o americano, é que o personagem que ele conseguiu criar para si antes de chegar ao Brasil foi perfeito. Ao desfilar seu show de obviedades e magnetizar parte da opinião pública, Textor ganhou o torcedor. E escancarou a “vira-latice“ do Brasil em relação à gestão esportiva.

Textor é um visionário. Não pela opinião que tem sobre a liga ou o sentimento de coletividade na gestão do esporte, mas porque soube comprar um clube brasileiro tradicional em um período de baixa, mas no momento certo, em que o ambiente de negócios começa a surgir.

Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte

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