Opinião: Os riscos da cripto para o esporte

Foi como uma tempestade perfeita. Criptomoedas encontraram no esporte um caminho para exposição em massa. A indústria do esporte, duramente castigada pelos efeitos da pandemia, abraçou os novos parceiros como se fossem velhos amigos.

Foi tudo tão rápido que um ingresso para um jogo do Miami Heat na NBA ainda mostra “formerly AmericanAirlines Arena”, ou antiga Arena AmericanAirlines, uma vez que pouca gente conhece a FTX, dona dos naming rights desde março de 2021.

Em Los Angeles, depois de duas décadas como Staples Center, a casa do Lakers, do Clippers, do Sparks e do Kings para jogos de basquete e hóquei agora se chama Crypto.com Arena. A mesma marca estampa a camisa do Philadelphia 76ers, uma das mais tradicionais franquias do basquete americano, e já tem acordo com a estrela LeBron James.

Comerciais de televisão e posts nas redes sociais com grandes nomes do esporte encorajando fãs a investirem em criptomoedas são cada vez mais comuns. Aaron Rodgers, quarterback do Green Bay Packers, e Odell Beckham Jr, wide receiver do Los Angeles Rams, foram alguns dos que anunciaram há alguns meses que receberiam parte dos salários em criptomoedas. Tom Brady, sete vezes campeão do Super Bowl, e Stephen Curry, maior arremessador da história do basquete, foram outros que promoveram empresas que operam no universo cripto.

Aqui nos EUA, o dinheiro do setor também já foi parar no futebol feminino, na Nascar, no UFC, no beisebol e na Fórmula 1. A conservadora NFL, por sua vez, restringiu atividades com a nova categoria de patrocínio, pelo menos por enquanto.

Em entrevista recente, o CEO da FTX, Sam Bankman-Fried, admitiu que o foco do investimento em publicidade feito pela empresa com estrelas do esporte é ganhar notoriedade e entrar com mais naturalidade na vida das pessoas. A ideia é pegar emprestadas a credibilidade e a aceitação do esporte. Para alguns especialistas, parte do esforço deveria ser feito na educação de clientes e interessados.

O conceito de criptomoedas não é simples. Ele prevê o uso de uma tecnologia chamada blockchain para verificar e avalizar as transferências de dinheiro de forma digital, sem depender do sistema financeiro tradicional, ou seja, dos bancos e bancos centrais.

Críticos do sistema reclamam de contas hackeadas, perda permanente do acesso às contas, atendimento ao consumidor insipiente, tarifas altas e um gasto grande de energia para manter os sistemas em funcionamento. Em artigo no The New York Times, Paul Krugman comparou o interesse por criptos aos fundos que provocaram a crise econômica mundial com a bolha no mercado imobiliário americano, mas disse também que não se trata apenas de um esquema para sonegar impostos e lavar dinheiro.

Os entusiastas dizem que o universo cripto é o futuro e apontam para a desconfiança com relação ao governo para defender o sistema descentralizado. No mundo dos games, o uso já é algo normal em muitas comunidades. Com a explosão de popularidade, é provável que muita gente tenha investido em cripto mesmo sem entender, só para não perder a novidade e ficar para trás.

O esporte já teve o primeiro susto com a nova categoria de investimento com a liquidação da Iqoniq, que ficou devendo dinheiro em alguns dos acordos que tinha com LaLiga, Real Sociedad, Crystal Palace, Olympique de Marselha, Euroliga de basquete e McLaren, entre outros, conforme você leu aqui na Máquina do Esporte.

Em um mercado ainda novo e sem regulamentação, fica mais difícil saber quem vai durar e quem está disposto a fazer a coisa certa. Se é bem claro o que as criptomoedas ganham com a associação ao esporte, fica a pergunta: além do dinheiro no curto prazo, o que ganha o esporte com a associação tão rápida ao cripto?

Sergio Patrick é jornalista especializado em comunicação corporativa e escreve mensalmente na Máquina do Esporte sobre o esporte nos Estados Unidos

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