A polêmica da semana veio da final do Paulistão, na qual sentimentos ficaram à flor da pele tanto entre os jogadores do campeão Palmeiras, quanto entre os atletas do vice São Paulo.
O atacante Calleri atirou ao chão o celular de Felipe Goto, jogador do Sub-15 do Palmeiras, que filmava a saída desolada dos jogadores são-paulinos do Allianz Parque. O garoto não falou nada que pudesse provocar a ira do jogador. Diante da repercussão negativa do caso, o argentino se arrependeu e se ofereceu para pagar o prejuízo. O Palmeiras agiu mais rápido, e a presidente Leila Pereira deu um novo celular para Felipe.
Outra cena lamentável do dia foi Danilo, um dos principais nomes da conquista do Paulistão, filmado gritando insultos homofóbicos aos são-paulinos derrotados. A reação do volante, de 20 anos, pode ser explicada pela pouca idade. Mas o jogador precisa de orientação. Já atua no time principal do Palmeiras e representa as cores de uma instituição gigantesca, cuja imagem fica arranhada por incidentes como esse. O Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) estuda o caso e pode punir o atleta.
Em ambos os casos, faltou posicionamento dos times. Do São Paulo, para pedir desculpas pela agressão, e do Palmeiras, para deixar claro que não compactua com a homofobia.
Por mais que haja comentaristas que achem que futebol só acontece dentro das quatro linhas, clubes são entidades com valores centenários. E outros que são forjados diante das transformações na realidade social.
O Vasco, que se consagrou ainda em 1923 por combater o racismo, hoje se firma como defensor da diversidade. Ficou icônica a imagem de jogadores vascaínos comemorando um gol erguendo a bandeira do arco-íris. No ano passado, o time de São Januário divulgou uma campanha inclusiva, com grande repercussão: “Somos o que somos. Somos todos iguais. Somos Vasco”, no qual torcedores de diversas orientações sexuais exaltavam seu amor ao clube.
No último dia 31 de março, fiel a seu propósito, o Santos fez um post dando um viva à democracia, com a mensagem: “É nosso dever sempre lembrar a importância e as virtudes da democracia. Liberdade não se negocia”. Para bom entendedor, o clube fazia um importante posicionamento contra a comemoração do golpe militar de 1964.
Muitos torcedores não entenderam assim. Alguns comentaram que a mensagem exaltava o regime militar, que teria “evitado o comunismo”. Outros criticaram a “lacração”, pois o clube precisaria é contratar jogadores e disputar títulos. Houve quem se manifestou a favor de Bolsonaro ou Lula, como se exaltar o regime democrático fosse apoiar o candidato A ou B.
Felizmente, a maior parte da torcida percebe, hoje, que apoiar um time vai muito além do que acontece dentro do campo de futebol, nas derrotas ou nas vitórias. Implica um posicionamento diante da realidade que o cerca, luta por causas relevantes para seus torcedores e a sociedade em geral. A defesa de um mundo melhor para as futuras gerações também é um valor importante do esporte.
Adalberto Leister Filho é repórter da Máquina do Esporte