Em um passado distante da minha carreira, já trabalhei como headhunter. Foi uma fase em que fiz diversos amigos, me diverti muito e cheguei até a atuar nos Estados Unidos em um projeto de expatriação. Para quem não conhece o termo, headhunter é o recrutador de executivos(as), e, na consultoria em que eu atuava, o modelo de negócio era baseado em cobrar da empresa que tinha a vaga um honorário para que eu pudesse encontrar o candidato ideal para preencher determinada posição.
Durante esse período, aprendi que o bom “placement”, termo que determina o preenchimento da vaga por certo profissional, era aquele que não só tinha competências que completavam a maior parte das características exigidas no documento de descrição do cargo, mas que tinha a capacidade de se adaptar à cultura da empresa. Isso é algo que muitas vezes não estava escrito em nenhum lugar, mas, nas conversas de desenho de perfil com o cliente contratante, era possível traçar um diagnóstico e, a partir disso, identificar quais perfis comportamentais tinham maior ou menor chance de decolar naquele ambiente.
Logo depois dessa experiência, migrei para o mercado de esportes e entretenimento. Nele, sempre me chamou atenção a situação de que as pessoas que me procuravam em busca de um emprego nas empresas que eu trabalhava – algo que acontece até hoje – sempre usavam como principal argumento de seu diferencial o fato de amar o esporte, amar o time e por aí vai.
Convido você para uma rápida reflexão: se você ou alguém da sua família tivesse que fazer uma cirurgia ou tratamento, optaria por um médico que ama hospitais ou aquele que estudou e se esforçou muito para estar ali de jaleco sabendo como conduzir tais procedimentos?
Parace uma comparação distante, né? Mas não é! Quando lemos inúmeras críticas sobre a gestão do esporte no Brasil, ouve-se muito falar em profissionalização, justamente o que acontece lá no mundo das empresas que contratam os headhunters que comentei no início do texto. Note que profissionalização tem a ver com capacidades técnicas e comportamentais que determinada vaga exige, não necessariamente com experiência prévia na indústria.
Acredito que a competência responsável para a minha transição do mercado de recrutamento de executivos para o mercado de esporte e entretenimento foi saber vender soluções para C-Level, executivos que ocupam posições que têm aquela letrinha C na frente, como CEO, CMO, CHRO, CTO, etc. Eu tinha aprendido muito sobre vendas consultivas, que consistem em como abordar, como agendar uma reunião, como entender um problema e finalmente como propor uma solução e entregá-la. Em ambos os casos, meu cliente estava em busca de uma solução. Uma era o candidato para a vaga que cumprisse determinadas funções e a outra era a construção de marca, propósito, aumento de vendas, reposicionamento por meio de um patrocínio.
Ao avaliar uma mudança profissional, é importante levar em conta que, no Brasil, a grande maioria das entidades esportivas, clubes e federações ainda não tem políticas de recursos humanos maduras. Isso quer dizer que planos de benefícios, stock-options, bônus ligado a metas quantitativas e qualitativas, e outros atrativos muito comuns em empresas privadas ainda não fazem parte do repertório do esporte.
Mas isso pode ser assunto para um outro artigo.
E você que sonha em trabalhar com esporte, já parou para pensar quais são as competências e experiências que você teve até aqui na sua carreira que podem ser úteis para as posições que anda se candidatando na indústria do esporte? Ter a possibilidade de construir uma carreira fazendo algo que ama é um privilégio, mas somente amar o esporte não preenche vagas! Pense nisso!
Ivan Martinho é CEO da World Surf League (WSL) na América Latina e escreve mensalmente na Máquina do Esporte