Opinião: Transmissão multiplataforma requer produto multiplataforma

Neste sábado (19), o YouTube levará um novo comentarista para as transmissões do Campeonato Paulista. Tiago Leifert, ex-Globo, foi convidado para dar seus palpites dentro da transmissão de Botafogo-SP x Corinthians. Ele estará ao lado de Milene Domingues e do ex-jogador Dodô na função, enquanto o narrador será Chicungunha, do canal Desimpedidos.

A presença de Leifert dentro da transmissão dá uma mostra clara de que, apesar de deter os direitos para mostrar o Paulistão, a rede social não conseguiu ainda encontrar o formato ideal para fazer o evento cair nas graças da torcida.

Todos os detentores de direitos, quando vendem a transmissão de direitos para plataformas não-convencionais, argumentam que essa é a forma de “achar” um torcedor que está afastado do futebol. Mas será que o YouTube levará o jovem para o consumo? Ou melhor: de que forma estamos fazendo a transmissão para falar com esse outro público?

Até agora, as transmissões de todos os campeonatos pelo YouTube e pelos streamers têm sido mais do mesmo. É exatamente o modelo que sempre fizemos na TV importado para o streaming. Quem foge um pouco dessa regra são Gaules e Casimiro, que já estão acostumados a fazer transmissões, mas de outras modalidades, dentro de seus canais.

Eles mais interagem com os torcedores e os transformam em protagonistas do que se preocupam com o jogo em si.

Sem o modelo do Cariocão, de distribuir o campeonato em vários produtores de conteúdos diferentes, o Paulistão até agora ofertou ao torcedor apenas uma transmissão de TV no streaming. Um narrador, dois comentaristas e repórteres em campo.

Uma das melhores definições sobre o definhamento da TV como produto de entretenimento veio de um crítico francês, que há quase uma década disse: “A TV é um meio velho, produzido por gente velha e que só fala com gente velha”.

O problema é que o que nós temos visto nas transmissões em streaming é exatamente a reprodução desse modelo que afastou o jovem da TV para as plataformas em que ele está atualmente. Ou seja: estamos levando o conteúdo dos pais deles e querendo que eles parem para assistir!!!!!

Podemos e devemos chamar Tiago Leifert, que é um rosto ultraconhecido e um dos maiores fenômenos de popularidade em diferentes públicos, para participar da transmissão do futebol. Ele, aliás, foi o cara que há 13 anos levou um novo jeito de falar sobre esporte na TV. Mais jovem, menos engessado, mais divertido.

Muita gente vai querer saber como foi o trabalho dele no jogo, a mídia já cobriu e com certeza cobrirá a participação dele. Além disso, Leifert ajuda demais a promover o produto (já fez isso nesta quinta-feira (17), para Mirassol x Santos).

Mas não será o Laifinho quem aumentará a audiência do jogo, se ele continuar a ser uma reprodução fiel do modelo chato que é uma transmissão de futebol na TV!!! Basicamente vamos desperdiçar o enorme potencial que ele tem dentro de um modelo que tem virado história.

Se não publicamos um post no Instagram só em texto, nem colocamos uma foto no TikTok ou só a imagem no Twitter, por que continuamos a fazer TV na internet? E, pior ainda, fazemos numa qualidade inferior à da TV tradicional, porque ela investe muito mais em engenharia, tecnologia e qualidade de equipamentos do que os produtores de conteúdo para a internet.

Uma transmissão multiplataforma requer uma produção de conteúdo multiplataforma. Enquanto o futebol continuar a ser transmitido com o formato da TV para a internet, vamos mudar a prateleira de quinquilharias do lugar, mas as coisas velhas continuarão por lá.

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