Os ensinamentos que o Coldplay deixa para o mercado esportivo

Sou capaz de afirmar que você que está lendo minha coluna foi impactado positivamente pelo que aconteceu no último sábado (10) no maior festival de música e entretenimento que esse país já viu, o Rock in Rio (RiR).

Poderia fazer esse texto comentando os ensinamentos que o próprio festival, que completou 37 anos em 2022, apresenta para o nosso mercado esportivo, mas vou ser mais específico. Vou me atentar a apenas uma das 300 atrações musicais que passaram pela Cidade do Rock nessa edição.

A banda britânica Coldplay destacou-se mais uma vez por todo seu carisma e, principalmente, por entregar muito mais do que um show.

Mas por que a banda liderada por Chris Martin se destacou tanto no RiR?

Porque, além da qualidade musical, pensaram e desenvolveram seu show (produto) de uma forma diferente da tradicional. Afinal, eles poderiam entrar no palco, cantar suas músicas, ser ovacionados e pronto. Como 99% das bandas fazem e fizeram.

Ora, o que isso tem a ver com o esporte? Tudo!

O show do Coldplay nos apresenta a importância de trabalharmos nosso produto para que seja muito mais que um jogo.

Eis alguns fatores que me fizeram trazer esse tema para o nosso mercado:

Não dá para começar falando sobre outro tema que não a pulseira que possui sete luzes de led e é feita de plástico sustentável de origem vegetal.

Foram distribuídas 100 mil unidades na porta do evento. Todas interligadas com inteligência artificial.

Quantos clubes brasileiros investem no produto, na experiência do torcedor ou no matchday? Seja por meio da festa da torcida que, em boa parte dos casos, é bancada por iniciativa da própria torcida, efeitos visuais como fogos (quando permitido), canhão de CO2, iluminação, ou até mesmo entretenimento no pré-jogo ou intervalo.

Muito raro de se ver. Normalmente, somente em finais como as festas que a Copa do Brasil e a Copa do Nordeste proporcionam.

“Ah, mas meu clube está quebrado. Não tem dinheiro”. Sim, muito possivelmente está, mas dinheiro para contratar um reserva que ganha mais do que precisa certamente tem.

E dinheiro pra maximizar a experiência do torcedor não tem, né?

Quer mais?

Em determinado momento, Chris Martin foi até seu piano, abaixou a cabeça e leu algumas mensagens em português. O público foi ao delírio. Minutos depois, ele ainda surpreendeu até o fã mais aficionado ao cantar “Magic” totalmente em português.

Empatia no estado da arte, respeito ao público e carinho com a comunidade que está inserida naquele momento.

Será que nossos atletas não poderiam fazer o mesmo? Muitos deles transferem-se para o mercado exterior e não têm a mínima preocupação em se conectar com a comunidade local. Nem se esforçam para aprender a língua local. Há, claro, raras exceções, como o meio-campista Bruno Guimarães, que chegou à França com francês fluente e, depois, fez o mesmo com o inglês na sua transferência para o Newcastle.

O mesmo vale para os gringos que vêm para o Brasil.

E vamos além.

Em determinado momento do show, o vocalista da banda fez um playback com “Something Just Like This” em linguagem de sinais e emocionou os fãs. Mais uma vez, empatia, demonstração de carinho e respeito pelas minorias e PCDs.

Além disso, o grupo distribuiu algumas mochilas que vibram com a música para que os deficientes auditivos pudessem curtir o show à sua maneira.

E eu pergunto: em qual atleta ou clube brasileiro você vê essa preocupação em se comunicar com públicos específicos? Vemos muitas ações em datas comemorativas, mas nada com uma sustentação ou uma campanha anual.

A mensagem que fica é que o grupo não se vê apenas como uma banda, mas sim um produto que tem como objetivo ampliar seu alcance e sua presença de marca por meio de iniciativas que o aproximem ainda mais dos fãs e conquistem cada vez mais novos públicos. Entregar mais do que se espera. Surpreender!

Nosso mercado esportivo precisa disso. Sair da caixinha. Fazer diferente. Entregar mais do que se espera. Ativar, maximizar patrocínios, proporcionar espetáculos e experiências inesquecíveis.

Esse é o lema que levo para meus clientes na agência. Para fazer o que todo mundo faz, não precisa da gente. Precisamos ser disruptivos e inovadores.

Bernardo Pontes, executivo de marketing com passagens por clubes como Fluminense, Vasco, Cruzeiro, Corinthians e Flamengo, é sócio da Alob Sports, agência especializada em conectar atletas e personalidades esportivas a marcas, também sócio da BP Sports, agência com foco em intermediação e ativação no esporte, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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