Não é fácil fazer as pessoas prestarem atenção em alguma coisa aqui nos EUA nessa época do ano que não sejam os playoffs do futebol americano. Ainda mais com um Super Bowl tão cheio de boas histórias, como as de Patrick Mahomes construindo uma carreira histórica e Brock Purdy mostrando uma personalidade impressionante para alguém tão novo. E, claro, Taylor Swift, artista mais popular no país na atualidade e que, desde que começou um relacionamento com Travis Kelce, tem aparecido em todos os jogos do Kansas City Chiefs, time que fará a grande final contra o San Francisco 49ers.
Até o mercado de apostas tem surfado na onda da Taylor Swift no Super Bowl, com apostas que envolvem a artista como: se ela vai ser pedida em casamento, se Kelce irá mencioná-la em um discurso ao final do jogo, se ela fará uma participação especial no Show do Intervalo e até se ela chegará a tempo do Japão para o jogo decisivo em Las Vegas.
Mas quem quer seguir crescendo para ocupar um espaço cada vez maior nesse incrível mundo dos esportes americanos não pode ficar parado esperando o Super Bowl passar. Tentando aproveitar a popularidade conquistada desde o ano passado com a contratação do craque argentino Lionel Messi, o Inter Miami está viajando o mundo. A pré-temporada tem paradas em El Salvador, na Arábia Saudita, na China e no Japão, além de um jogo em Dallas, provável sede da final da Copa do Mundo Fifa de 2026.
E os resultados desse sucesso vão além do clube da Flórida. De acordo com o site Sportico, especializado nos negócios do esporte nos EUA, Messi proporcionou um aumento de 16% no preço médio dos times da Major League Soccer (MLS). Mas o ótimo Joe Pompilano, em sua newsletter Huddle Up, alertou que a MLS precisa de mais do que Messi para dar o salto que tanto sonha. Pela minha experiência aqui, também arrisco dizer que o torcedor de futebol dos EUA prefere o equilíbrio da MLS a uma equipe muito superior às outras dando show e ganhando com facilidade. Isso pode ter feito sentido nos anos 1970 com o New York Cosmos de Pelé, mas agora a cultura do futebol foi consolidada nos moldes das demais ligas esportivas americanas. Os fãs querem ver competição e imprevisibilidade.
Clubes brasileiros têm experimentado um pouco desse crescimento desde 2015, com jogos de pré-temporada em Orlando, um dos principais destinos turísticos para famílias brasileiras e onde muitos brasileiros também moram. O que começou como Florida Cup, com jogos em janeiro, cresceu para se tornar a FC Series, com partidas também no meio do ano, o que fez com que clubes europeus pudessem participar com mais frequência. A principal concorrência vem da Ásia, onde os organizadores de eventos também procuram atrair grandes clubes europeus.
Já estiveram em Orlando alguns dos principais clubes brasileiros, como Palmeiras, Fluminense e Corinthians. Em 2024, o convidado foi o Flamengo para jogos contra o Philadelphia Union e o Orlando City, ambos da MLS. O CEO da FC Series, Ricardo Villar, contou que as partidas fazem parte de um projeto de expansão de marca do clube carioca.
“Quanto a clubes sul-americanos, o que nos motivou a voltar a realizar esse evento em janeiro foi o approach do Flamengo, o seu projeto de internacionalização reiniciado em etapas, começando pela Flórida, que acaba sendo estrategicamente importante porque já possui uma cultura rubro-negra de muitos brasileiros que moram aqui e conseguem transmitir o que é esse sentimento que é o Flamengo. E tudo isso é uma semente plantada, entendendo que, em 2025, tem um Mundial de Clubes, e acreditamos que o Flamengo realmente seja o número um da lista, que transfira o maior número de massas de um continente para o outro para um evento esportivo”, disse.
Villar explicou também que plantar essa semente é fundamental para crescer em solo americano, já que os fãs de futebol no país têm olhos voltados para outro lugar.
“O grande interesse do mercado americano por esses clubes internacionais se resume nos Top 10 do mundo. A partir dali, o apelo passa a ser bem menor. Então, não só receitas anuais de direitos de transmissão em diferentes mercados internacionais, ou venda de camisa, patrocínio e coisas do tipo, mas essas excursões, os tours de pré-temporada que eles fazem pela Ásia e, no caso, aqui nos EUA, onde você tem rendas de estádio entre US$ 8 milhões e US$ 15 milhões, chega a ser US$ 20 milhões ou até mais em certos jogos em cidades específicas e estádios específicos aqui no país. Então, isso todo verão acontecendo, e óbvio que tem outras ligas que acabam investindo em projetos de internacionalização e incentivam outros clubes também a virem pra cá, e eles investem no crescimento da sua marca”, destacou.
O CEO da FC Series tem uma visão privilegiada para esse crescimento do interesse pelo futebol nos EUA, trajetória que ele acompanha desde os tempos de estudante, nos anos 1990.
“Eu cheguei a ser draftado pela MLS no quarto ano da liga, em 2000, e depois voltei pra cá pós-Europa em 2011, e, no começo, não tínhamos nem local de treinamento. Era em escolas, os estádios eram adaptados. Hoje, a liga já tem seu estádio próprio, tem uma torcida engajada em cada cidade que lota seus estádios específicos de futebol. Quando eu vim pra cá, era considerado só um esporte feminino”, recordou-se.
Ricardo Villlar vê no número de praticantes um futuro promissor para o futebol nos EUA.
“Entre todos os jovens que praticam algum esporte aqui, o futebol já é o número um. E isso, de geração a geração, continua a crescer. O conhecimento é maior, o respeito é maior, e o amor é maior pelo esporte. E, enfim, a Copa de 2026 vindo pra cá novamente é mais um grande exemplo do que só tende a crescer”, finalizou.
Sergio Patrick é especializado em comunicação corporativa e escreve mensalmente na Máquina do Esporte