A chaga acontece com data marcada: todo santo dia.
As mazelas que afligem as mulheres brasileiras têm um KPI macabro, não falhando um só dia. Enquanto eu apurava conteúdo para esse artigo, a maldição mostrou sua precisão britânica.
Após ser atingida por uma garrafada, a torcedora não resistiu aos ferimentos. Morreu aos 23 anos, em uma praça esportiva.
O jogo era Palmeiras e Flamengo, no badalado Allianz Parque, em São Paulo. Em teoria, com o tal padrão Fifa após 2014, deveria garantir alguma qualidade para o público feminino.
Definitivamente não é o caso.
Nesses últimos tempos estou dedicando um bom tempo do meu dia para entender mais o assunto. E de imediato, a coisa começa pela falta de empatia masculina. A minha inclusive.
Como a menstruação afeta um evento
A equipe de insights da Webedia publicou a pesquisa Festivais, Banheiros e Menstruação.
O insight veio de um evento de games (a última edição da Brasil Game Show ano passado), mas vale para qualquer evento – público ou privado – que tem aglomeração de pessoas.
Graças a falta de olhar prático e empático ao público feminino, situações são simplesmente ignoradas por organizadores e patrocinadores.
No período menstrual, as mulheres têm nesse tipo de evento uma série de desafios a mais para lhe darem com algo que por si só já não é confortável.
Entre outras coisas, a falta de estrutura significa impacto em termos higiênicos, médicos, clínicos, financeiros, psicológicos entre outros.
Se você acha que é exagero (especialmente se for homem), sugiro ler cada uma das 51 páginas do estudo.
E aí, talvez, você entenda o que pode fazer com seu ginásio ou estádio fiquem sempre lotados.
Mulheres nos Games e e-Sports: na alegria e na tristeza
A questão é cultural. Em especial em algo com dimensões tão gigantescas em termos de público aqui no Brasil.
Então, o preconceito com o público feminino acontece tanto no mundo de games como no dos esportes também.
Tenho para mim, que as mudanças que vemos em termos de apoio à cena competitiva feminina, tem na tal da economia criativa seu grande motor de mudança.
A Cazé TV irá transmitir a Copa do Mundo Feminina. E vendeu 10 cotas de patrocínio, conforme a Máquina do Esporte já deu aqui.
A NWB já vem desde seu início se preocupando com o protagonismo feminino no mundo da bola.
Lançou um ótimo material para você conhecer canais femininos que cobrem o mundo do futebol.
O material é o 12 criadoras de conteúdo em alta para investir durante o mundial de futebol feminino.
A Ubisoft, detentora do jogo Rainbow Six Siege (R6), traz mais uma vez seu torneio para o público feminino no Brasil.
O torneio está em pleno andamento e as finais acontecem em agosto.
Entre outras coisas, a Ubisoft tem uma abordagem focada em desenvolvimento pessoal e profissional das atletas participantes.
Nós, os homens do mercado
Chegou um dia em que caí em mim sobre o fato de que “eu sou o mercado”.
O que quero dizer com isso?
Seja por uso de verba ou definição de estratégia de público, minhas decisões podiam ser protagonistas (ou não) em situações que impactam diretamente a vida dos brasileiros. E para reforçar meu ponto, brasileiras.
Tente ver se seu projeto, campanha ou ação, tenha previstas atitudes que atendam a todos os públicos.
Da próxima vez que você for investir em ações para o público, não se esqueça delas.
Alessandro Sassaroli é diretor comercial de gaming na Webedia Brasil e escreve mensalmente na Máquina do Esporte.