Quanto vale um “rabisco” de Tom Brady?

"Rabiscos" de Tom Brady em itens de memorabília geraram polêmica nos EUA - Reprodução

Quanto vale um autógrafo? Depende, claro, de alguns fatores. Primeiro, depende muito de quem é o dono da assinatura. Depois, da frequência e/ou raridade desse autógrafo (o que determina a escassez no mercado de colecionadores), de que tipo de item está assinado (uma bola, uma camisa, um ingresso), do quão legível e “bem-feito” ele está, registros e/ou certificados que atestem a origem da assinatura, e por aí vai.

Se esse autógrafo for em um item histórico, único ou raro, é a certeza de uma pequena fortuna. É comum vermos por aí notícias sobre cards, camisas, tênis e outras peças que, dependendo do autógrafo, alcançam números na casa dos milhões de dólares. Esse é um mercado que atrai cada vez mais investidores e que vem aumentando uma base interessante (e de alto poder aquisitivo) de apaixonados.

Foi pensando nisso que cerca de 100 fãs de Tom Brady desembolsaram US$ 3,6 mil (pouco mais de R$ 18 mil) por um ingresso para um encontro com o “Giselo”, em Miami (EUA), na última semana. Tudo certo até que ele passou a ser acusado de fazer “rabiscos” para fãs. “Tom Brady é acusado de fazer ‘rabiscos’ para fãs que pagaram R$ 18,4 mil por autógrafo” foi o título de uma matéria.

Brady participou de um “meet & greet” (“conhecer e cumprimentar”, em tradução livre), algo bem comum nos Estados Unidos, um encontro promovido por marcas e empresas, em que os fãs tiram fotos, choram, pedem vídeos, entregam presentes e dão abraços em seus ídolos. É essa a oportunidade de “saciar a fome” de autógrafos, sempre com um número limite de itens para assinatura, até porque o mercado de memorabília esportiva nos EUA gira mais de US$ 6 bilhões por ano oficialmente.

Tom Brady participou de “meet & greet” e deixou fãs furiosos com “rabiscos” em itens de memorabília – Reprodução

Aqui no Brasil, jogadores da NBA estão sempre protagonizando iniciativas como essas (no último fim de semana, cerca de mil fãs fizeram uma longa fila na NBA Store Arena Town, em São Paulo (SP), para encontrar com Gui Santos, brasileiro que joga pelo Golden State Warriors).

Mas “algo de muito errado não estava certo” no “meet & greet” com Brady. Uma história com três versões (uma do astro, uma do organizador e outra dos fãs), em que todo mundo saiu perdendo. Aos fatos: enfurecidos, os fãs reclamaram da antipatia e dos “rabiscos” do ex-jogador em itens caros e raros, como ingressos, tênis, bolas e cards, todos de memorabília, tornando-os menos valiosos, “danificando” as peças para efeito de mercado. O que valia muito passou a valer menos com a “assinatura” de Brady no evento.

Quem não conseguiu o rabis… ou melhor, o autógrafo, curiosamente, saiu feliz.

E, pelas fotos, comparando autógrafos de Brady com os “autógrafos” que ele assinou no evento, realmente não dá para encontrar similaridade ou padrão nas assinaturas.

“Autógrafos” não têm similaridade ou padrão nas assinaturas, o que enfureceu os fãs – Reprodução

Brady negou má vontade e apenas afirmou que o evento era um encontro para alguns autógrafos e fotos, e não um evento oficial com colecionadores. Um ponto que chamou atenção e irritou ainda mais os fãs foi o fato de não haver autenticadores profissionais no local para certificação das assinaturas, algo comum em eventos desse tipo.

Ou seja: Brady, que sempre foi tão admirado por sua habilidade com as mãos, decepcionou pela antipatia e pelos “rabiscos”. O evento ficou manchado pela confusão, e os fãs, bom, os fãs esperavam (e mereciam) mais respeito e uma experiência melhor.

Falando sobre medalhas…

Para quem não viu, duas medalhas olímpicas foram negociadas nos últimos dez dias no mercado brasileiro pela Memorabília do Esporte. Algo que, salvo engano, nunca havia acontecido. Na semana passada, uma medalha de ouro dos Jogos do Rio de Janeiro 2016 foi negociada por R$ 170 mil, e, nesta semana, uma medalha de bronze dos Jogos de Londres 2012 foi arrematada por R$ 150 mil. As razões e/ou os motivos que levam alguém a vender uma medalha não estão em questão. Acho que não cabe julgamento. Seja qual for o motivo, isso é algo que só diz respeito ao atleta ou ao colecionador que a negocia.

Só como curiosidade: para quem não sabe, Pelé vendeu suas três medalhas de campeão mundial: R$ 930 mil (1970), R$ 960 mil (1962) e R$ 680 mil (1958).

Samy Vaisman é jornalista, sócio-diretor da MPC Rio Comunicação (@mpcriocom), cofundador da Memorabília do Esporte (@memorabiliadoesporte) e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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