Quanto vale uma reputação?

Eduardo Bauermann, do Santos, é um dos jogadores investigados na Operação Penalidade Máxima II - Flávio Hopp / Gazeta Press

A Operação Penalidade Máxima II mancha a indústria do futebol em todos os sentidos, sem exceção. Não há vencedor, a não ser uma quadrilha que promove esse tipo de situação. Perdem os atletas, os clubes e as competições. E são abalados dois valores que, talvez, sejam os mais difíceis de construirmos ao longo do tempo: reputação e credibilidade.

Para os atletas envolvidos, eu pergunto: quanto vale sua reputação? Os anos dedicados aos treinos. O esforço de, ainda menino, sair de casa cedo para morar debaixo das arquibancadas dos estádios Brasil afora. Os dias longe da família, os aniversários do filho que perdeu por estar viajando no final de semana…

Os títulos e os litros de suor dedicados ao longo de muitos e muitos anos são jogados fora por conta de uma tentação corrupta pelo dinheiro “fácil”. Uma vida pessoal e profissional descartada “por um cartão amarelo”.

Não adianta. Será praticamente impossível o bom zagueiro Eduardo Bauermann entrar em campo, seja pelo clube que for, e não lembrarem do episódio do jogo contra o Botafogo. Qualquer cartão que ele leve não perdoarão: “ih, foi combinado”. Um dano imensurável. Uma reputação jogada no lixo. Qual o valor disso?

Não descarto situações em que a quadrilha ameace determinados atletas, obrigando o jogador a realizar tal situação. Todos esses episódios são, claramente, uma consequência da falta de regulamentação das casas de apostas no país. O assunto vem sendo tratado e debatido desde o ano passado, mas, infelizmente, não há nenhuma concretização.

Já passou da hora de haver, no mínimo, uma simples medida. Algo como “se comprovado envolvimento de atleta com manipulação de resultado ou qualquer conduta intencional motivada por relação com benefício próprio ou de terceiros próximos em apostas, o mesmo será banido do esporte”. Pronto. Um trecho curto atuando na raiz do problema já reduziria a chance de envolvimento de atletas com esse tipo de situação.

As casas de apostas são bastante prejudicadas com esse tipo de situação, primeiro financeiramente, pois uma aposta combinada deixa de ser aposta, e quem paga pela fraude são as casas. E perde o mercado como um todo, visto que abala o segmento e põe em cheque as empresas de apostas. Mas é fundamental separar as que investem pesado em compliance e em tecnologia para identificação desse tipo de fraude. Normalmente aquelas com licenças na Europa ou nos EUA, ao invés de outras com licenças em paraísos fiscais como Curaçao. Mais um motivo da importância da regulamentação.

Os fatos relatados a partir da Operação Penalidade Máxima II têm consequências nefastas para o mundo do futebol. Considerando as devidas proporções, nos remete à Máfia do Apito de 2005 e ao Fifagate, quando o lado obscuro do futebol se fez presente (e dominante).

Situações como essas redobram o desafio de convencimento para a entrada de novos investidores no futebol e afastam grandes anunciantes do mercado esportivo. Afinal, que marca quer estar atrelada a pautas como fraude e manipulação?

Bernardo Pontes, executivo de marketing com passagens por clubes como Fluminense, Vasco, Cruzeiro, Corinthians e Flamengo, é sócio da Alob Sports, agência de marketing esportivo especializada em intermediação e ativação no esporte, que conecta atletas e personalidades esportivas a marcas, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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