Ser Isabel é preciso

Adriana Samuel escreveu que toda uma geração (a sua) de meninas do vôlei queria ser Isabel. Li o depoimento emocionado de Adriana, de Virna, de Fabi Alvim, de Jackie Silva. Li também centenas de posts de atletas, amadoras e profissionais, de diversas outras modalidades. Velejadoras, remadoras, corredoras, todas tendo em Isabel Salgado um modelo. Uma inspiração.

Eu também queria ser Isabel. Não que sonhasse em dar cortadas poderosas ou saques precisos (logo eu que até hoje não sei “sacar por cima”). Mas, na minha carreira dedicada ao esporte, arrisco dizer que sempre busquei ter um pouco de Isabel. No inconformismo, na coragem, na ousadia, no desbravar, no acreditar. Queria ter dito isso a ela quando estivemos juntas no Japão em 2018. Eu olhando embasbacada aquele mulherão falar, tentando absorver as doses de energia, alegria e otimismo que sempre destilava.

O esporte feminino deve muito a Isabel. Em uma época em que não se enxergava o espaço da “mulher no esporte” ou se falava em equidade de gênero no campo de jogo, Isabel já estava de peito aberto e sendo a primeira atleta brasileira a jogar voleibol em um clube no exterior. Desfilou seu barrigão lindo de quatro gestações sem perder a potência. Foi pioneira na quadra, na praia e fora delas.

Isabel pensava o esporte e o vivia em todas as vertentes. Jogou, treinou e criou campeões, como seus filhos Maria Clara, Carol e Pedro, todos com medalha no peito, além de Pilar e Alisson, sem falar em tantos outros que impactou com palavras e ações. Teria sido um olhar fundamental na Equipe de Transição do Governo Lula.

Se hoje temos o esporte buscando ser um substantivo feminino, Isabel deu sua dose cavalar de contribuição. E, meus amigos, continuará dando.

Não gosto da palavra legado, mas é dele que estamos falando. A voz rouca de Isabel seguirá ecoando quando pensarmos em espaço para mulheres, em liberdade, em democracia.

Sim, quando falamos em mulher no esporte, ser Isabel é preciso.

Manoela Penna é consultora de comunicação e marketing, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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