É o Mês da Mulher, e muito tenho lido sobre mulher no esporte, inclusive aqui, na Máquina do Esporte.
Vivo um dilema entre detestar a necessidade de ter um Mês da Mulher, um Dia da Mulher, e a necessidade de, ao menos em março, podermos ter o holofote voltado para nós. Viramos uma causa. Sim, ainda somos minoria e sofremos incompreensão, preconceito, desrespeito e desprezo, mesmo em pleno Século 21. Por favor, sem olhares de peninha por isso. É preciso atitude. A equidade passa pela participação ativa de todos nessa mudança que, espero, minha Cecília possa viver plena e legitimamente quando crescer.
Dei muitas entrevistas na minha carreira dizendo que, para ter mais mulher no esporte, era preciso primeiro que elas quisessem estar no esporte. Seja como jornalistas, médicas, nutricionistas, técnicas, dirigentes. Ou atletas, claro. O que ela quiser. Mas sei que não é tão fácil assim. Em que pesem esforços, o ambiente esportivo está ainda a alguns muitos passos, infelizmente, de ser amigável à presença feminina. Ou, como dizem hoje em termos mais atualizados, não existe um ambiente seguro.
Lembro no fim dos anos 1990, quando eu era repórter esportiva de futebol e tinha de entrar no vestiário para fazer entrevista logo após o jogo. Todos nus. Não que eu nunca tenha visto um homem pelado na vida, mas era constrangedor para todos e uma situação extremamente desnecessária. Isso felizmente mudou. Mas os gritos pejorativos seguem ecoando nas arquibancadas.
O mesmo acontece nas reuniões de gestão, assembleias, eventos corporativos, seminários e o que quer que seja ligado a esporte. Somos (muito) poucas. Ainda precisamos de bandeiras levantadas em nome da equidade de gênero para que organizações nos ofereçam cadeiras, sobretudo em postos de tomada de decisão. Sou orgulhosa, detesto cota. Quero pensar que construí minha trajetória profissional baseada na minha capacidade e não porque era preciso ter uma mulher atuando aqui ou acolá. Sim, tive de fazer ouvido de mercador para piadinhas e equilibrar em silêncio meus pratinhos para ser mãe no meio de tantas obrigações.
Este texto não é um manifesto, nem um desabafo, tampouco vai apontar dedos ou trazer soluções. O artigo desse mês é uma homenagem a mulheres fortes como Ana Moser, Adriana Samuel, Adriana Behar, Mariana Miné, Marcia Casz, Ana Thaís Matos, Carol Barcellos, Glenda Kozlowski, Julia Silva e tantas, tantas outras famosas ou anônimas que, mesmo fora do campo de jogo, fazem diferença no esporte. Com paixão, firmeza e sem perder a ternura.
Manoela Penna é consultora de comunicação e marketing, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte