Show x Esporte

Grande Prêmio de Las Vegas será disputado entre 16 e 18 de novembro (ou 17 a 19 de novembro, pelo horário de Brasília) - Reprodução / X (@F1LasVegas)

A F1 deixou Interlagos e parte agora para a inédita corrida noturna em Las Vegas na próxima semana.

A etapa brasileira mostrou tudo aquilo que se espera (para o bem e para o mal) de uma pista “raiz”.

É verdade que Fernando Alonso se queixou da qualidade do pavimento em alguns trechos do traçado, da mesma forma como saiu sorridente depois da épica batalha pelo pódio contra Sergio Pérez.

É verdade que houve invasão de público em São Paulo ainda com os carros andando e teve também torcedores agredindo seguranças.

É verdade que a tempestade da tarde de sexta-feira arrancou a cobertura de arquibancadas provisórias e provocou o caos, inclusive adiando o qualifying da pioneira etapa da F4 Brasil, que, por sinal, rendeu corridas muito disputadas em Interlagos.

Também é fato que a renovação do contrato garantindo a permanência de Interlagos no calendário da categoria rainha até 2030 arrancou elogios quase unânimes no paddock.

Mas, principalmente, para o que interessa a quem ama o esporte, é inegável que tanto a corrida sprint no sábado quanto a prova no domingo foram divertidas e cheias de alternativas.

Agora vamos para Las Vegas.

A corrida noturna perante um mercado gigantesco é mais uma cartada da nova F1 para cativar de vez o público norte-americano.

Como em Mônaco, Miami e Singapura, os ingredientes de um show prometem estar todos lá.

Mas… e a parte esportiva?

O tricampeão Max Verstappen foi um tanto ácido ao endereçar o leiaute do traçado de 6.201m montado nas ruas de Las Vegas.

“Em primeiro lugar, acho que estamos lá mais para o show do que para a corrida em si, se você observar o leiaute da pista”, disse o piloto holandês da Red Bull.

É verdade o que ele fala.

São longas retas, curvas travadas de 90 graus e chicanes. Não exatamente uma “pista de piloto”, como as tradicionais Monza, Silverstone e Spa Francorchamps.

Outro fator que acendeu o sinal amarelo em relação à nova etapa nos EUA é o clima. Las Vegas fica em uma região desértica e, em novembro, a previsão é de 6ºC para a hora da tomada de tempo e um grau a menos na hora da largada. O desafio para aquecer os pneus será tremendo.

Some-se a isso as longas retas, freadas fortes, muros muito próximos, e o risco de acidentes é uma realidade preocupante.

Claro, isso tudo faz parte do show.

Mas algo que todo promotor de competições (e de corridas de automóveis em especial) deve considerar é o quanto se pode arriscar e comprometer o aspecto esportivo em detrimento do show.

Em Las Vegas, a F1 dá mais um passo decisivo para o lado do entretenimento. Em uma semana, saberemos se, para isso, terá sacrificado o que faz dela a maior categoria do mundo desde 1950.

Luis Ferrari é CEO da Ferrari Promo e escreve mensalmente na Máquina do Esporte sobre esporte a motor

Sair da versão mobile