Tom Brady, primeiro e único

Não haverá outro Tom Brady. É bom deixar isso bem claro logo no começo da conversa. Quando alguém que representa tanto para o esporte decide se aposentar, existe uma tendência de tentar ocupar o vazio que fica. Foi assim com Pelé no futebol e Michael Jordan no basquete.

O Super Bowl LVII terá dois jovens craques da posição mais destacada do futebol americano: os quarterbacks Patrick Mahomes, pelo Kansas City Chiefs, e Jalen Hurts, pelo Philadelphia Eagles. Mahomes é a grande estrela da sua geração. Já tem um título e irá para a terceira final em quatro anos.

Mas cada um tem a sua história e a de Brady parece mesmo ter saído de uma sala cheia de escritores criativos em Hollywood. Imagine um cara que parecia muito magro para um esporte que tem o contato físico como algo fundamental. Não tinha tanta velocidade. Foi escolhido apenas na sexta rodada do draft.

Um jogador sair dessa posição para virar uma estrela da liga é quase como ganhar na loteria. Só que, no caso dele, não foi apenas sorte. Teve muito trabalho duro e uma obstinação de quem não se deixou intimidar quando ser titular parecia um sonho distante. E a cabeça, parte até mais brilhante que o braço direito do supercampeão Brady, estava pronta quando o desafio apareceu. Foi na segunda temporada na liga por causa de uma lesão do titular Drew Bledsoe.

Foram inúmeros títulos e recordes numa época em que a NFL teve craques históricos na posição como Aaron Rodgers e Peyton Manning. Aliás, o irmão de Peyton, Eli, é o único que pode se gabar de ter vencido duas finais contra Brady. Mas, mesmo com esses dois títulos, não está nem perto de Brady na discussão sobre os maiores da história.

E mesmo quando o mundo já sabia que Brady era genial, muita gente ainda atribuiu boa parte do sucesso dele ao também incrível treinador do New England Patriots, Bill Belichick. Pois Brady aproveitou os últimos anos da carreira pra ganhar mais um Super Bowl, desta vez com o Tampa Bay Buccaneers, para mostrar que podia vencer mesmo sem seu técnico de tantos anos nos Patriots.

Brady seguirá ligado ao esporte o quanto quiser. É uma figura tão importante que terá sempre propostas para ser comentarista, o que ele já vai fazer com um grande contrato com a Fox, para promover produtos, embora deva estar traumatizado por causa do susto que levou com o anúncio que fez para a FTX, empresa de criptomoedas que quebrou, e até, quem sabe, para ser dono de um time no futuro.

Alguém pode até alcançar sete títulos ou as 23 temporadas, apesar de ser muito difícil. Alguém pode conseguir uma virada como aquela contra o Atlanta Falcons, mas acho improvável. E alguém pode até sair da 199ª posição do draft para se tornar a maior estrela da sua geração no futebol americano, o que parece impossível. Mas tudo isso em uma só carreira, não acontecerá. Não haverá outro Tom Brady.

Sergio Patrick é especializado em comunicação corporativa e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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