Sempre considerei um privilégio gigantesco ter tido a oportunidade de trabalhar com atletas que são parte indissociável da história do esporte. Minha admiração por todos eles é gigantesca e, não importa qual modalidade representem, há algo de muito especial na figura desses grandes astros do esporte mundial.
Pude trabalhar com Pelé e viajar o mundo com os capitães do tetra e do penta, além de dividir palco com o do tri. Tive a chance de conversar com lendas olímpicas e paralímpicas, como Cesar Cielo, Isaquias Queiroz, Simone Biles, Jackie Silva, Michael Johnson, Maurren Maggi, Michael Phelps, Daiane dos Santos, Maurício Lima, Daniel Dias e Fernando Rufino. Pude bater bola em sets de filmagem com Ronaldinho Gaúcho e Daniel Alves, além de jogar videogame com o Luis Fabiano no seu auge. Certa vez, tive até que atender um pedido do Guga, o Gustavo Kuerten em pessoa, que queria muito tirar uma foto comigo, e juro que tenho testemunhas desse momento épico e divertidíssimo.
Também tive a imensa sorte de trabalhar com Lionel Messi em 2013, durante as gravações de uma campanha global da marca Gillette, realizadas em Barcelona, tendo ele e outras estrelas do futebol mundial como protagonistas. E digo sorte mesmo, porque eu não estava escalado originalmente para participar do projeto e acabei sendo enviado de última hora, por conta de um imprevisto com outra pessoa da equipe.
Entre as gravações das cenas principais do comercial da campanha, eu era responsável por coordenar a captação de conteúdo de bastidores com Messi e os demais atletas embaixadores da marca na época: Thomas Müller, Joe Hart e Lucas Moura.
No começo de cada dia, antes de abrir câmera, eu sentava com cada um para repassar o briefing do dia e costumava mostrar alguns vídeos da internet como referência, para entenderem o que precisávamos deles. Para o Messi, escolhi mostrar um vídeo que se chamava “Lionel Messi Never Dives” (algo como “Messi nunca cava falta”), que o mostrava sendo caçado pelos adversários, mas se recusando a ficar no chão.
Eu imaginava que ele já teria visto esse vídeo mil vezes. Só que não: eu estava tendo a chance de mostrar pela primeira vez, para um dos maiores jogadores do mundo, um vídeo que demonstrava exatamente por que ele era um dos maiores jogadores do mundo. E isso quase 10 anos atrás.
Messi estava no set acompanhado do pai, que na época era também seu empresário. A cada cena do vídeo, ele apontava para a tela, com um sorriso inocente, como se fosse um garoto de cinco anos de idade, e dizia “mira, papá!”, encantado.
Com o início das gravações, eu ficava a postos junto com uma miniequipe de captação, aguardando o intervalo entre uma cena e outra para invadir o set e cumprir uma lista de conteúdos de “b-roll” (cenas de bastidores), que tinha a missão de conseguir.
E tinha de tudo nessa lista: entrevistar Messi com perguntas enviadas por vencedores de promoção, bater bola com ele para registrar seu domínio ultrapreciso, gravá-lo se barbeando em frente ao espelho enquanto fazia embaixadinhas, e até mesmo uma cena em que eu pessoalmente colocava espuma de barbear nas mãos dele, para que ele a espalhasse em uma tela de acrílico posicionada em frente à câmera e “autografasse” essa tela com o cabo do aparelho de barbear (confesso que essa última parte funcionava muito melhor no papel do que na prática).
Ao longo de todo o dia de gravação, Messi foi extremamente cortês, atencioso e profissional, demonstrando-se muito carinhoso com seus fãs, que eram basicamente todas as pessoas envolvidas ali. Exatamente por isso, não havia espaço para pedidos de selfies ou autógrafos. Se ele tivesse que parar para atender um só pedido, perderíamos um tempo enorme das já limitadíssimas horas de diária que tínhamos com ele. Assim, tenho comigo um único registro desse encontro, “uma foto de uma foto”, que ilustra esta coluna, como minha singela oferenda de Natal aos leitores.
Para todos nós que amamos profundamente o futebol, acredito que tenha sido muito especial termos testemunhado esse cara finalmente se tornar campeão do mundo com a Argentina, trazendo de volta esse título para a América do Sul depois de 20 infindáveis anos de espera.
Nos dias que antecederam a final do último domingo (18), pensei muito em todos os grandes amigos argentinos que fiz nestes anos de estrada, e no quanto esse título significaria pra cada um. Talvez os anos recentes trabalhando com a Conmebol tenham também aflorado ainda mais em mim esse sentimento, além da certeza de que o sucesso de todo o futebol sul-americano é uma conquista a ser celebrada por todos nós que aqui nascemos, vivemos e/ou trabalhamos.
Que bom que essa conquista veio. Que bom que nossos vizinhos estão hoje vivendo essa alegria e essa catarse coletiva, que só o futebol pode proporcionar.
Há histórias que o futebol conta que são quase lindas demais para serem verdade. Mas, ainda bem, muitas vezes elas são.
Y viva Sudamérica!
Felipe Soalheiro é diretor geral da Effect Sport São Paulo, fundador da SportBiz Consulting e escreve mensalmente na Máquina do Esporte