Um gigante ainda adormecido

Vasco tem uma torcida que compra o clube, que engaja com os patrocinadores, que quando convocada, supera qualquer expectativa - Reprodução / X (@VascodaGama)

Nos meus anos de futebol, tive a oportunidade de trabalhar em cinco grandes clubes do futebol brasileiro. Cronologicamente, Fluminense (2011 e 2012), Vasco (2014 e 2015), Corinthians – Arena Corinthians (2016 e 2017), Cruzeiro (2018) e Flamengo (2020 e 2021).

Hoje, resolvi falar especificamente sobre um desses clubes, o Vasco, em que tive o prazer de liderar o marketing por dois anos consecutivos, sendo um deles na gestão de Roberto Dinamite e outro na gestão de Eurico Miranda.

Encontrei muita dificuldade ao longo desses dois anos por diversos motivos diferentes.

Quando cheguei, em fevereiro de 2014, a convite de Rodrigo Caetano, que havia me indicado ao presidente, fui para trabalhar por poucos meses, já que as eleições estavam por vir e não havia nenhuma segurança de continuidade. 

Era o último ano de Roberto Dinamite e praticamente todos os vice-presidentes haviam o abandonado. Roberto estava muito enfraquecido politicamente para alinhar seus acordos pensando na eleição que estava por vir. Ainda sim, conquistamos o prêmio de Melhor Marketing do Ano em votação por júri popular. 

Já no outro ciclo, com a volta de Eurico Miranda, havia uma percepção ruim do mercado publicitário perante a imagem dele. Além disso, lembro-me de uma dificuldade específica, que era a não utilização de determinados ídolos do clube nas iniciativas de relacionamento com o torcedor. Nem post de feliz aniversário podíamos dar, pelo fato de determinado ídolo não estar alinhado politicamente. 

Vivi o Vasco tão intensamente que poderia escrever uma coluna só sobre 2014 e outra só sobre 2015, mas não quero falar de passado. 

Fiz essa introdução para dizer que conheço bastante da identidade do torcedor e principalmente do tamanho desse clube.

Posso afirmar, sem dúvida, que o Vasco é o maior potencial de crescimento, engajamento, geração de receita e oportunidades de negócio do futebol brasileiro. 

Se eu fosse um empresário procurando por um clube para investir, certamente o Vasco seria uma das minhas primeiras opções. E explico o motivo.

Se tirarmos um retrato da situação dos dez maiores clubes do futebol brasileiro, de como eles estavam há 15 anos e como eles estão hoje, posso afirmar que o Vasco foi o clube que menos mudou. 

Quando falo há 15 anos, estou falando de um período antes da Copa do Mundo no Brasil. Pra ser mais exato, 2009.

Naquele ano, os clubes estavam assim: 

Flamengo: Não tinha CT, afundado em dívidas e sem contrato com o Maracanã.

Corinthians: Não tinha Neo Química Arena, tampouco tinha reformado o CT Joaquim Grava.

Palmeiras: Não tinha o Allianz Parque, ainda Parque Antarctica. 

Fluminense: Não tinha o CT Carlos Castilho, ainda treinava nas Laranjeiras e sem contrato com o Maracanã.

Grêmio: Jogava no Olímpico, não tinha a Arena do Grêmio.

Internacional: Não tinha a Arena Beira-Rio.

Atlético-MG: Não tinha a Arena MRV.

E o Vasco? 

São Januário está essencialmente da mesma forma, e a mudança principal é que o CT Moacyr Barbosa, se comparado com a realidade de 2009, é um “oásis”, mas ainda muito distante da realidade dos principais clubes do Brasil. 

Em campo, nenhuma torcida no futebol brasileiro sofreu tanto nos últimos dez anos quanto o torcedor vascaíno. Não quero entrar no mérito do motivo do sofrimento, até porque o objetivo desse texto não é falar de passado, mas sim de futuro.

O Vasco é uma potência. Certamente a maior demanda reprimida do mercado.

Poucos clubes no Brasil têm a capacidade de lotar um estádio fora do seu estado, e o Vasco é um deles. 

Estive lá dentro. É uma torcida que compra o clube. Que engaja com os patrocinadores. Que quando convocada, supera qualquer expectativa. 

Uma torcida que sofreu muito num passado recente e que não aguenta mais ver o clube no caos.

Os torcedores tiveram poucos motivos para comemorar nos últimos anos. 

E dois desses motivos foram justamente a mudança de Associação para Sociedade Anônima do Futebol (SAF), para fugir da politicagem sempre muito conturbada no clube. 

E mais recentemente a vitória de Pedrinho na eleição para presidente do clube. 

Por isso, independentemente do motivo, não tem cabimento, em pleno 2024, o clube não chegar em um acordo entre os seus mandatários e viver nas manchetes por conta de brigas e desalinhamentos. Não dá. 

Por que vocês acham que o Vasco ainda não anunciou um patrocinador máster? 

Esse desalinhamento só gera insegurança para quem assina um cheque desse tamanho. 

Existem muitos erros no contrato da SAF. Erros que são inacreditáveis. Um exemplo é que gestão de Pedrinho sequer pode usar o escudo do clube, que foi “vendido” para a 777 Partners. O direito de uso da marca é da empresa.

Por outro lado, sem os ídolos perto, o trabalho da SAF será cada vez mais difícil. Vivi isso em 2015, como comentei.

Pelo lado da Associação, Pedrinho exala credibilidade. Um cara que pode abrir portas em lugares em que talvez ninguém mais consiga. 

Pelo lado da SAF, Lucio Barbosa (CEO) é um dos caras mais bem preparados para sentar nessa cadeira no Brasil. 

Ou seja, o Vasco tem na mesa credibilidade e competência, mas, mais uma vez, está perdendo para a política. 

Se ambos os grupos, SAF e Associação, tirarem um pouquinho a vaidade da mesa e pensarem na instituição, tenho certeza de que o Vasco deslanchará no caminho de voltar a ser uma potência de marca e principalmente esportiva do Brasil. 

O clube ainda não viveu o salto de crescimento que muitos outros viveram. E está muito próximo disso. 

São Januário reformado, CT padrão europeu, ídolos em campanhas comerciais, sociais e institucionais, elenco forte brigando por títulos e, principalmente, alinhamento estratégico e planejamento operacional alinhado.

Se tem um clube capaz de virar esse jogo, é o Club de Regatas Vasco da Gama. Afinal, “O Vasco é o Time da Virada, O Vasco é o Time do Amor”.

Bernardo Pontes, executivo de marketing com passagens por clubes como Fluminense, Vasco, Cruzeiro, Corinthians e Flamengo, é sócio da Alob Sports, agência de marketing esportivo especializada em intermediação e ativação no esporte, que conecta atletas e personalidades esportivas a marcas, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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