O home run é a principal jogada do beisebol, quando o rebatedor manda a bola para fora do campo e marca pelo menos um ponto para o seu time. Ao longo dos anos, virou parte do linguajar americano expressões como “knocked it out of the park”, quando alguém faz algo extraordinário, ou simplesmente o uso de home run para falar de um grande acerto. Mas quem poderia imaginar que o momento que levanta os torcedores nas arquibancadas e sofás, e que está em cenas emocionantes de vários filmes americanos, estaria atrapalhando o jogo?
A Major League Baseball (MLB) implementou mudanças para a atual temporada justamente para tentar, entre outras coisas, reduzir o número de home runs. Tudo de acordo com a opinião que a liga recebeu dos fãs do esporte. O problema começa com a explosão no uso de dados no beisebol, que é bem retratada no livro e no filme “Moneyball”. Com tanta informação, os treinadores começaram a montar as defesas com base nos números de cada rebatedor para evitar as rebatidas mais baixas. Consequentemente, esses rebatedores passaram a buscar mais os home runs, que são indefensáveis.
O resultado foi um jogo que tem menos ação dentro de campo, com grande parte das jogadas terminando em strikeouts, quando o rebatedor é eliminado, em walks, quando ele avança sem rebater, ou em home runs. O jogo ficou mais demorado e mais chato. Os fãs deixaram bem claro. Não se trata apenas de gostar de um esporte, mas de gostar da forma como ele é jogado. Discussões semelhantes existem no basquete, por exemplo, com a chuva de bolas de três pontos que vemos atualmente.
Depois de dominar o interesse dos americanos em boa parte do século 20, a MLB é hoje a terceira em popularidade entre as ligas profissionais, atrás da NFL e da NBA. O beisebol tem 31% da preferência dos americanos que acompanham alguma liga, segundo a pesquisa Statista Global Consumer. Mas entre jovens entre 16 e 25 anos, esse número cai para 25%.
O valor médio anual de todos os contratos de transmissão nacional do beisebol gira em torno de US$ 2 bilhões. Para se ter uma ideia, a NFL, liga mais popular dos EUA, ganha aproximadamente US$ 10 bilhões por ano com os acordos de transmissão atuais. E especialistas estimam que a NBA conseguirá pelo menos US$ 5 bilhões por ano no próximo contrato, a partir do ano que vem.
A MLB resolveu, então, se mexer e alterar regras como poucas vezes fez na história. Dentre as novidades estão um relógio que limita o tempo do arremessador, bases maiores e restrições no posicionamento dos jogadores de defesa. Tudo foi discutido por anos e testado com sucesso nas ligas menores. Agora, o novo beisebol está sendo experimentado no seu principal palco.
Alguns resultados já podem ser vistos nesse começo de temporada como um número maior de bases roubadas, consequência direta do aumento de tamanho das bases. Os jogos parecem estar mais dinâmicos e interessantes.
Também em busca do público jovem, a MLB assinou recentemente um contrato com a Apple para transmissão de jogos por streaming. Nos próximos anos, a liga promete ficar de olho na reação do público para tentar salvar o esporte que representou tanto para os americanos no século 20.
Sergio Patrick é especializado em comunicação corporativa e escreve mensalmente na Máquina do Esporte