Uma aula de idolatria

No último sábado (9), Fred encerrou seu ciclo como atleta de futebol profissional, mas convenhamos: não foi mais uma despedida. Foi um grande evento realizado e organizado pelo clube por meio dos departamentos de marketing, comunicação e comercial. 

O que aconteceu no Maracanã foi digno de uma aula de como tratar um ídolo. Inclusive, antes de falarmos do que rolou no sábado (9), é fundamental pontuar todo o trabalho desenvolvido durante a semana pelo clube. 

Criaram expectativa, produziram uma série de conteúdos especiais, lançaram um hotsite, potencializaram o programa de sócio-torcedor que ultrapassou 50 mil pessoas, colocaram o Instagram na mão do “Rei dos Stories” (apelido carinhoso que Fred recebeu em 2018 quando explodiu no digital), anunciaram patrocinador novo (Frescatto na clavícula), espalharam outdoor de led na cidade, aviões com mensagem de despedida na praia e, por fim, “sold out” no Maracanã. 

Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos. Foi uma noite mágica, e quisera eu ter o dom da escrita para fazer você que está lendo minha coluna ter uma noção do que se passou no Maracanã no último dia 9 de julho. 

Se é que dá para tangibilizar o que foi esse jogo, na noite anterior soubemos da história da dona Maria das Graças, de 68 anos, que saiu do Acre com a sua filha para acompanhar a partida. Um detalhe: sem ingressos. Saiu de lá para tentar a sorte de conseguir comprar nem que fosse com cambista. 

E ela deu sorte, pois sua jornada chegou ao conhecimento da Betano, patrocinadora máster do clube (e minha cliente na BP Sports). Prontamente convidamos as duas para o camarote do jogo. 

Dona Maria das Graças, de 68 anos, saiu do Acre com a filha para acompanhar a partida – Reprodução

Eu moro na zona sul do Rio de Janeiro. Para quem não conhece, o Maracanã fica há cerca de 10 a 15km, dependendo do lugar que você esteja. Estou falando isso porque, assim que saí de casa, foi possível ver diversas pessoas em locais estratégicos com placas em referência ao jogo. “Você está a 8km do FredEtern9”, “Faltam 5km para a despedida do FredEtern9”. Ou seja, já mostrava ao torcedor um clima totalmente diferente do que está acostumado. 

Ao chegar ao estádio, show do cantor Belo animando a torcida; máscaras de Fred, com ilustração feita por um dos maiores nomes do mercado, Gonza Rodriguez, podiam ser vistas por todos os lados; e flash tatoo e placas em pvc em tamanho real do atacante nos corredores do estádio colocavam ainda mais o torcedor no clima da partida.

Teve uma placa que fez tanto sucesso que um torcedor resolveu criar um perfil no Instagram (@PlacadoFred). Vale a pena conferir a criatividade do rapaz.

Mas os principais momentos ainda estavam por vir. 

A entrada do time em campo, com a torcida abrindo um Mosaico 360°; ativação da Betano, com a frase “O Fred vai te pegar, Etern9” junto a um mosaico 3D do histórico voleio que o atacante desferiu contra o Flamengo; e mais fumaça verde, branca e grená. Certamente é uma imagem que jamais será esquecida por quem estava no Maracanã. 

Nesse momento, olhei para o lado e vi a dona Maria das Graças com lágrimas nos olhos e a certeza de que cada quilômetro dessa viagem valeu a pena. 

Por fim, aos 30 e poucos minutos, houve o “O Fred vai te pegar” mais alto que a torcida tricolor já cantou desde que o atleta chegou em 2009. 

Naqueles minutos, o torcedor se despedia de um dos maiores ídolos da história do clube. Para muitos que estavam no estádio, sem dúvida, o maior. Fred é carisma, irreverência, liderança e gol. Muitos gols. 

E ele resolveu se despedir da mesma forma que ele voltou ao clube em 2021. De bicicleta. Uma volta de bike e uma brincadeira ao entrar com ela dentro das traves, simbolizando seu gol 200. 

O Fluminense investiu na festa. Promoveu entretenimento. Isso é o que o nosso esporte precisa. Mostrarmos que é muito mais que um jogo. 

Por diversos motivos (não dá para pontuar nesse texto), é difícil vermos uma relação tão bonita entre atleta e torcida. Muitos saem cedo, voltam tarde e perdem esse vínculo de trajetória esportiva vitoriosa no Brasil. 

Vejo poucos nomes no futebol brasileiro capazes de reproduzir uma festa como essa. Talvez o Cássio (Corinthians), o Dudu (Palmeiras), o Diego (Flamengo). Não há muitos. Uma pena. 

O que move o futebol são os títulos e ídolos. 

Parabéns ao Mário Bittencourt que sempre acreditou e sonhou com tudo que aconteceu. E parabéns a todos os funcionários envolvidos nessa festa histórica. O Fred é eterno, e o Fluminense eternizou um dia na vida dele, dos torcedores e de todo mundo que ama o futebol.

Veja abaixo algumas fotos desse dia inesquecível para o torcedor tricolor:

Bernardo Pontes, executivo de marketing com passagens por clubes como Fluminense, Vasco, Cruzeiro, Corinthians e Flamengo, é sócio da Alob Sports, agência especializada em conectar atletas e personalidades esportivas a marcas, também sócio da BP Sports, agência com foco em intermediação e ativação no esporte, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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