O futebol é um esporte movido por muitos fatores. Um dos principais deles é a rivalidade, que aflora de maneira especial nos grandes clássicos.
Muitos confrontos, ao redor do planeta, reivindicam o título de maior clássico do futebol mundial. Esse tema costuma render muita discussão, sobretudo porque envolve critérios subjetivos.
Mas há alguns aspectos objetivos que podem servir para solucionar essa polêmica. Em matéria financeira, por exemplo, nenhum confronto ao redor do mundo se aproxima do El Clásico, entre Barcelona e Real Madrid.
Neste sábado (26), às 17h (horário de Brasília), as duas equipes se enfrentarão mais uma vez, em uma história iniciada em 13 de maio de 1902 e que já totaliza 259 partidas.
O jogo de número 260, que será realizado no Estádio Olímpico de La Cartuja, em Sevilha, decidirá a Copa do Rei da Espanha. No Brasil, a final será transmitida ao vivo por ESPN e Disney+.
Rivalidade com raízes históricas
Embora a denominação em espanhol seja mais conhecida ao redor do mundo, entre os catalães o jogo é chamado no idioma local de El Clàssic.
A questão étnica e política é justamente um dos fatores que ajudam a impulsionar a rivalidade. Essa disputa de fundo ideológico se cristalizou durante o regime totalitário do General Francisco Franco, que durou de 1939 e 1975.
A ditadura franquista suprimiu as demais nacionalidades existentes no país, em detrimento da identidade espanhola. Com isso, povos que integram o país e lutavam por maior autonomia ou mesmo independência, como os bascos e catalães, passaram a sofrer perseguição, sendo proibidos de usar inclusive seus próprios idiomas nos meios de comunicação ou em espaços públicos.
Os jogos do Barcelona eram um dos raros locais em que a identidade da Catalunha (bandeira, língua, hino) podia se manifestar. Dessa forma, a relação com o clube transcendeu a questão esportiva, transfigurando-se no sentimento nacional de um povo.
Já o Real Madrid, por estar localizado na capital do país e ostentar no nome e no uniforme símbolos que remetem ao status quo (monarquia e catolicismo, em especial), passou a personificar esse poder centralizador que imperava na Espanha.
É fato que hoje os tempos são outros. O mesmo Real Madrid, que já foi visto como próximo ao franquismo, hoje sai em defesa de seus atletas (o brasileiro Vinicius Júnior, principalmente) vítimas de racismo, crime de ódio praticado inclusive por torcedores do Barcelona, como no caso ocorrido em 2023, às vésperas do clássico, válido pela LaLiga.
Até o momento, o Real Madrid leva ligeira vantagem no El Clásico (ou El Clàssic), com 105 vitórias, contra 102 do Barcelona e 52 empates.
Receitas bilionárias
Além da rivalidade histórica e étnica, o clássico entre Barcelona e Real Madrid envolve cifras bilionárias. Os mais recentes rankings da Forbes e da Delloite costumam colocar os dois clubes na lista dos mais ricos do mundo.
A 28ª edição do Delloite Football Money League traz o Real Madrid na liderança da lista dos times que mais faturaram no planeta na temporada 2023/2024. A equipe foi a primeira na história a ultrapassar a marca de € 1 bilhão em receitas anuais. O total foi de € 1,045 bilhão no período analisado.
Nos últimos anos, aliás, é fato que o time de Madri vinha experimentando um momento melhor não apenas dentro de campo, conquistando as principais competições da Espanha, da Europa e do mundo, mas também fora dele.
Enquanto isso, o Barcelona vinha de uma fase de seca de títulos, aliada à perda de receitas e ao aumento crescente da dívida. Na temporada 2023/2024, o clube foi um dos poucos na Espanha a registrar prejuízo anual acima de € 80 milhões.
Segundo o relatório da Delloite, o Barcelona acumulou € 760 milhões em receitas na última temporada, ocupando a sexta posição no ranking.
O faturamento somado dos dois clubes em 2023/2024 ultrapassou a quantia de € 1,805 bilhão. Nenhum outro clássico nacional tem tanto dinheiro envolvido.
O único confronto que se aproxima é o derby entre Manchester United e Manchester City, que, juntos, alcançaram uma receita anual de € 1,608 bilhão. Vale observar, porém, que a disputa entre os dois clubes ingleses não possui a mesma dimensão histórica do El Clásico.
Elencos de peso
Quando o assunto é valor de mercado dos jogadores, o Real Madrid também leva vantagem. Mesmo não vivendo seu melhor momento nos gramados (acabou de ser eliminado da Champions League pelo Arsenal), o clube possui um elenco avaliado em € 1,27 bilhão.
Nesse quesito, os merengues só perdem globalmente para o Manchester City, cujo plantel aparece avaliado em € 1,31 bilhão na plataforma Transfermarkt.
Atual líder da LaLiga, com 76 pontos conquistados (contra 72 do Real Madrid), o Barcelona ocupa a quarta posição no ranking de clubes mais valiosos do mundo da Transfermarkt, com elenco cotado em € 1,02 bilhão.
Hoje, o Real Madrid possui o jogador mais caro do mundo, o atacante brasileiro Vinicius Júnior, avaliado em € 200 milhões (ele divide a posição com Erling Haaland, do Manchester City).
No Barcelona, o grande destaque é o espanhol Lamine Yamal, cotado em € 180 milhões.
Patrocinadores
Os protagonistas do El Clásico também movimentam marcas de expressão global. A camisa mais valiosa do mundo é do Real Madrid, que traz logomarcas de empresas como Emirates, Adidas, BMW e HP, em contratos que totalizam € 260 milhões ao ano.
O Barcelona conta com um total de 32 patrocinadores e faturou € 210 milhões com essa fonte de receitas na última temporada. Cinco empresas, sozinhas, responderam por 76% desse total: Nike, Estrella Damm, CaixaBank, Ambilight TV e Spotify.
O serviço de streaming de áudio, aliás, detém os naming rights do Estádio Camp Nou, que atualmente passa por reforma, além de ocupar o espaço máster na camisa do Barcelona.
Nos últimos tempos, a plataforma tem procurado inovar, utilizando o patrocínio de uniforme dos blaugranas para homenagear nomes da música, caso da banda britânica Rolling Stones, da cantora espanhola Rosália e do rapper norte-americano Drake.
Na última vez em que os dois times decidiram um título (a Supercopa da Espanha, em janeiro deste ano), o clube catalão é que ficou com a taça.