O caminho para prevenir casos de manipulação de jogos como recentemente aconteceu no futebol brasileiro passa pela educação do ecossistema do esporte e pela regulamentação das apostas esportivas, assunto no qual o governo federal deve editar uma medida provisória para tratar do tema em breve.
Esses foram os caminhos apontados por especialistas na área, reunidos em debate promovido pela Confut Sudamericana, que teve início nesta quarta-feira (12), no Hilton Barra, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio de Janeiro).
“Quando falamos de esporte, um ponto precisa evoluir. Até cinco anos atrás, de 2018 para cá, a manipulação era de resultado, vitória, empate ou derrota. Agora, a manipulação é de ações. Precisamos até de uma nomenclatura nova”, aponta Guilherme Buso, executivo sênior de contas esportes e apostas da Genius Sports.
A Genius é uma empresa de tecnologia e dados esportivos que, entre outras atividades, examina o perfil de apostas esportivas, gerenciando a integridade dessa atividade para casas de apostas, entidades esportivas e empresas de mídia. Para Buso, há um novo tipo de manipulação, mas que ainda não foi entendido pelos atletas.
“Vemos claramente nos depoimentos da Operação Penalidade Máxima que, na cabeça do jogador, tomar um amarelinho, ceder um escanteio ou o primeiro lance do jogo não vai influenciar no resultado. Só que agora pode apostar nessas ações. E quando você elimina a imprevisibilidade do jogo, está manipulando”, acrescenta.
Educação
Para combater esse problema, João Santos, da Stats Perform aponta um caminho importante: a educação. É preciso primeiro que os jogadores saibam que estão auxiliando esquemas de manipulação de apostas quando deliberadamente praticam algum ato, independentemente se isso irá interferir no resultado da partida.
Por outro lado, ainda não está entranhado na cabeça dos atletas profissionais do país que eles, familiares e amigos não podem apostar.
“Esse boom de jogadores da Série A envolvidos com manipulação [no Brasil] já existiu em outros países. O atleta pensa que é algo simples, não jogou para perder”, afirma o português João Santos, executivo da Stats Perform.
Para ele, outro caminho para combater o problema está na regulamentação das apostas esportivas, que faz com que o mercado se desenvolva de maneira mais controlada.
“Regulamentação traz regras para casas de apostas e proteção aos apostadores. Por outro lado, mesmo ainda sem regulamentação, qualquer federação de futebol pode começar a educar seus atletas, treinadores e árbitros”, diz Santos.
“É algo novo no Brasil: é preciso educar sobre manipulação de resultados”, acrescenta o português.
Vigiar e punir
Para os especialistas, além da educação é preciso haver punição exemplar para coibir esquemas de manipulação de apostas E as empresas que examinam a integridade esportiva têm papel fundamental par coibir esse tipo de ação.
“É preciso deixar muito claro para o jogador que ele vai ser pego, que o sistema é tão bem-criado que mais cedo ou mais tarde ele vai ser pego”, sentencia Robson Silveira, diretor de patrocínios da Sportradar na América Latina.
Recentemente, a empresa assinou contrato para direitos de áudio e vídeo e dados de apostas das principais competições da Conmebol, como Libertadores e Copa Sul-Americana.
A empresa de integridade esportiva já utiliza até ferramentas de inteligência artificial para determinar padrões e tentar flagrar irregularidades.
“Para vocês terem uma ideia, esse sistema conseguiu pegar 40% das manipulações de apostas que tivemos no ano passado. Foram mais de 1.200 em todos os esportes. Obviamente que o sistema não atua sozinho: ele aponta uma suspeita, que o analista irá examinar”, explica Silveira.