Victoria Barros. 14 anos. Quase 50 mil seguidores no Instagram, entre eles nomes como Rayssa Leal e Raí. Uma das maiores promessas do tênis feminino brasileiro. Mas que não vem sendo convocada para defender o Brasil em competições internacionais juvenis.
No início desta semana, Victoria postou em seu perfil na rede social da Meta que não havia sido convocada para a Billie Jean King Cup Junior (chamada por ela de Mundial), que será disputada em novembro. Na publicação, que teve todos os comentários apagados, muitos deles perguntando o porquê da não convocação, ela deseja boa sorte a outras três tenistas.
O primeiro fato que chamou atenção é de que a convocação ainda não foi realizada pela Confederação Brasileira de Tênis (CBT), o que deve acontecer na semana que vem. E o segundo foi o pronunciamento oficial feito pela entidade, quando indagada pela reportagem da Máquina do Esporte sobre o assunto.
“Desde a convocação para o Campeonato Sul-Americano de 16 anos, a tenista Victoria Barros negou a convocação por conta de patrocínios individuais, alegando estar impossibilitada de usar o uniforme oficial da seleção, ferindo assim uma das premissas que tornam as atletas elegíveis a participar deste tipo de competição representando o Brasil. De acordo com o regulamento da Confederação Brasileira de Tênis, todos os atletas devem usar os uniformes oficiais da equipe em torneios que representam o país”, afirmou a CBT.
“Como a situação não mudou até o presente momento, a CBT manteve o critério técnico de permanecer com a equipe que conquistou a vaga para a Billie Jean King Cup Junior e foi campeã do Sul-Americano de forma invicta”, acrescentou a entidade.
Norma valeu em Paris
Aqui vale uma explicação. Pelo regulamento da CBT, os atletas que estiverem representando o Brasil em um torneio precisam utilizar os uniformes oficiais da entidade, os quais, desde abril deste ano, são confeccionados pela Wilson, patrocinadora da confederação. O acordo com a empresa para o fornecimento de bolas já existia desde 2018, mas foi ampliado há quatro meses, e a Wilson passou a ser a marca oficial também de vestuário, acessórios e calçados da CBT.
Essa norma foi colocada em prática, por exemplo, nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Bia Haddad Maia e Laura Pigossi, que são patrocinadas pela Asics, e Luisa Stefani, que é Fila, vestiram Wilson na capital francesa. E o mesmo vale no masculino. Thiago Monteiro, por exemplo, que é atleta da Joma, também jogou as Olimpíadas de Wilson.
Dentro da própria seleção juvenil há exemplos. Nauhany Silva, a Naná, também de 14 anos, e Pietra Rivoli, de 16, são patrocinadas pela Fila e vêm sendo convocadas normalmente. A equipe feminina fica completa com Ana Laura Cruz, de 15 anos. E as três atuam vestidas de Wilson quando defendem a seleção brasileira.
Victoria Barros, por sua vez, é patrocinada pela Nike. Ou seja, quando a CBT fala em “negou a convocação por conta de patrocínios individuais, alegando estar impossibilitada de usar o uniforme oficial da seleção”, dá a entender que a marca norte-americana não estaria autorizando a atleta a vestir material esportivo de uma concorrente, o que impediria a convocação dela.
Palavra da mãe da atleta
A Máquina do Esporte foi atrás da atleta para ouvir a versão dela. Como é menor de idade, foi a mãe, Maria Luiza Barros, quem conversou com a reportagem.
Primeiro, Maria Luiza explicou o motivo da postagem falando sobre a convocação que, na verdade, ainda não foi realizada.
“Foi algo onde ela quis passar para as meninas que são colegas dela desde pequena que elas não estariam juntas, porque todas perguntavam se ela iria fazer parte da equipe. Como nós estávamos fazendo a programação da Victoria de torneios para o segundo semestre, eu conversei com a CBT para saber se a Victoria seria convocada ou não, e recebemos a resposta que não, que o time será mantido igual ao Sul-Americano”, afirmou a mãe da atleta.
Perguntada sobre a questão da Nike, ela deixou claro que precisa seguir normas, mas não deu detalhes de quais seriam essas normas nem sobre o contrato assinado entre Victoria e a marca.
“Em relação à Nike, temos que seguir normas. É algo muito simples: a Nike padroniza a roupa para o jogador que faz parte do Time Nike com as cores que são combinadas com a confederação para seu jogador. E pronto. Temos que seguir normas”, disse Maria Luiza Barros.
“Quando falamos de marca, de categorias juvenil e profissional, falamos de contratos e normas contratuais diferentes. Diferenças contratuais cabem a cada marca, assim como também as federações e confederações são diferentes com suas normas”, completou.
Já em relação à CBT, apesar da não convocação da filha, Maria Luiza foi só elogios.
“Eu entendo a confederação. E quero sempre ter a confederação ao nosso lado. Rafael Westrupp [presidente da CBT] está fazendo um grande trabalho, e parabenizo a todos que fazem parte da Confederação Brasileira de Tênis”, destacou.
Nike
Assim como procurou a CBT e a jogadora para entender a história, a Máquina do Esporte fez alguns questionamentos à Nike na manhã da última quarta-feira (28). No entanto, passadas 48 horas do contato, a marca ainda não respondeu.
Caso a Nike se pronuncie, esta reportagem será atualizada.