Governo precisa saber agir para o mercado de apostas não naufragar

Fernando Haddad é o atual ministro da Fazenda - Marcelo Camargo / Agência Brasil

As declarações mais recentes do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, começam a deixar claro que o Governo Federal, finalmente, apertará o cerco na festança desenfreada das casas de apostas no Brasil.

A decisão de listar, a partir desta terça-feira (1º), quais sites poderão operar no país e, a partir de 11 de outubro, retirar do ar aqueles que estão impedidos de funcionar, é algo que precisa ser feito urgentemente.

Os recentes estudos divulgados pelo Banco Central mostram o tamanho do problema financeiro que já existe no Brasil por conta da jogatina sem controle. Isso sem falar no vício em jogo, depressão, crime organizado e demais pragas que acometem o mercado de apostas mundialmente.

Em um país em que não há controle sobre o jogo, isso é ainda mais potencializado. E o cenário brasileiro, hoje, beira o caos.

Mas, ao mesmo tempo em que começa finalmente a controlar quem joga e quem deixa jogar, o governo corre o risco de colocar em colapso todo o mercado, mesmo informal, que existe nos dias atuais.

Em entrevista, Haddad aconselhou os apostadores a retirarem seu dinheiro dos sites que deixarão de funcionar no país em um período curto de dez dias. Fez isso antes de anunciar a lista de quem terá licença para operar no Brasil.

E esse é o grande risco do momento. Ao dizer que “é melhor tirar o dinheiro antes que a casa de aposta deixe de operar”, Haddad manda um recado indiscriminado para todo apostador.

Saque sua grana ou o que já era pouco ficará ainda menor.

O problema é que, até por conta do mercado desregulamentado em que vivemos desde 2019, as casas de apostas não são obrigadas a seguir qualquer regra de compliance sobre o uso do dinheiro que o apostador tem dentro da empresa.

Não são poucas as casas que usam o dinheiro que está no caixa para fazer investimentos. Não há qualquer controle minimamente regulamentado sobre o que é possível fazer com a grana do apostador.

Estamos, hoje, em um cenário muito parecido ao de pequenos e médios bancos dos anos 1980 no Brasil. Eram empresas que usavam o dinheiro depositado pelo cliente para fazer suas operações, sem um limite de gastos. Quando todos queriam sacar o que estava depositado, a empresa quebrava.

Foi apenas com a intervenção e regulamentação dadas pelo Banco Central que o sistema bancário no Brasil entrou nos eixos, tornando-se referência mundial. Banco, para poder funcionar, precisa ter um controle enorme de uso do dinheiro que está lá dentro. Se a verba é do cliente, existe um limite de uso.

Só que isso não existe no mercado das bets. E, logo após as declarações de Haddad, começamos a ver várias casas usando as redes sociais para dizer que o apostador pode confiar na empresa, pois ela não deixará de atuar no país.

O governo precisa urgentemente soltar a lista de quem estará “livre” a partir do dia 11. Do contrário, o mercado das apostas poderá entrar em colapso, com muita gente querendo tirar dinheiro e os cofres das empresas sem recursos para devolver o que não era delas.

É preciso saber agir para evitar um dano ainda maior para os apostadores. Mesmo assim, haverá muita gente sem ver a cor do dinheiro que investiu nos últimos tempos. A banca já levou tudo embora e não vai ter como pagar.

O aprendizado do Brasil sobre as apostas entra, agora, em sua segunda fase. Antes tarde do que nunca.

Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo

Sair da versão mobile