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O conhecimento não pode jogar sozinho

Indústria de esportes, entretenimento e cultura precisa de mais referências, de ideias novas; precisamos transformar conhecimento individual em aprendizado coletivo

Publicado pela Editora Alta Books, "Patrocinei!" é o primeiro livro escrito por Ivan Martinho - Divulgação

Faz mais de 16 anos que trabalho com o que amo.

Já vi de perto a engrenagem que move grandes eventos, da Copa das Confederações de 2013 até os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016, fui ao Chile com a responsabilidade sobre a Copa América em 2015, vivi a intensidade da Copa do Mundo em 2014, mergulhei por anos na Copa do Brasil.

Aprendi o valor de uma boa história na televisão na época da Fox Sports e, nos últimos seis anos, tenho vivido algumas das maiores conquistas da minha carreira na World Surf League (WSL), vendo o surfe brasileiro conquistar o mundo e transformando vitórias em negócios.

Em paralelo, há 13 anos divido o que aprendo nas salas da ESPM, da CBF Academy (da Confederação Brasileira de Futebol (CBF)), do Curso Avançado de Gestão Esportiva (Cage) (do Comitê Olímpico do Brasil (COB)), e também por aqui, na Máquina do Esporte, bem como em artigos na Exame e no podcast Patrocinei!, que em breve estreará a 6ª temporada.

Escrever sempre foi parte do meu processo de organizar pensamentos, mas escrever um livro é outra coisa. É como colocar sua trajetória sob uma lente de aumento, rever decisões, conexões, aprendizados e, acima de tudo, tentar devolver ao mercado algo que ele me deu de sobra: experiências e de forma organizada e replicável.

Foi assim que nasceu o “Patrocinei!”, meu primeiro livro, escrito em parceria com a Editora Alta Books. Um trabalho de dois anos, que começou com um vazio pessoal: a ausência de uma leitura que eu mesmo gostaria de ter encontrado lá atrás, quando comecei. Sentia falta de algo que tratasse o patrocínio de forma séria, estratégica, com profundidade e clareza, que conectasse academia e prática, e que não fosse apenas sobre o esporte, mas sobre como marcas, atletas, plataformas e fãs se encontram em um território cada vez mais relevante para os negócios.

Existem muitas referências boas sobre patrocínio nos Estados Unidos e na Europa, leituras fundamentais, que me inspiraram e me ajudaram a estruturar minha visão. Mas, em boa parte, essas obras falam de um mercado que opera com regras, culturas e dinâmicas muito diferentes das nossas. E essa distância, por vezes, mais afasta do que aproxima.

Foi no meio do caminho do meu projeto que o professor Nicolas Caballero lançou seu excelente livro, um trabalho profundo e necessário sobre o tema, com a cara do nosso mercado. Tive a honra de escrever a orelha da obra e, mais do que isso, recebi dela uma dose extra de motivação. Ver o Nicolas colocando seu conhecimento no papel me motivou ainda mais a seguir com o meu livro. Porque, se tem uma certeza que esse processo me deu, é a de que o nosso mercado precisa, e merece, mais vozes.

A noite de lançamento foi inesquecível. Escutei depoimentos que me emocionaram, palavras de incentivo, abraços apertados e um gostinho de “quero mais”. Porque mais do que lançar um livro, o que fiz foi dar um passo na direção de algo que acredito de verdade: a nossa indústria precisa compartilhar mais. Precisamos transformar conhecimento individual em aprendizado coletivo.

Como escreveu José Martí: “Há três coisas que cada pessoa deveria fazer durante a vida: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro”. Escrever esse livro me fez entender, com mais clareza, o que essa frase quer dizer. Porque nenhuma dessas três coisas é só sobre você. São sementes plantadas no outro. São gestos de continuidade, de construção, de legado.

Sou pai de duas meninas incríveis, já plantei minha árvore e sigo plantando mais, como um orgulhoso membro do conselho do Onçafari, a ONG mais relevante do Brasil em conservação ambiental. Agora, escrevi meu livro. Mas sei que o mais importante vem depois: o que se faz com tudo isso.

O livro não é um ponto final. É uma vírgula. Ele me despertou para um novo papel: o de incentivar mais gente a dividir o que sabe. A nossa indústria cresce, os investimentos aumentam, e os desafios também. Mas ainda somos carentes de conteúdos que traduzam a complexidade do nosso trabalho, que ajudem quem está começando e que provoquem quem já está no jogo.

Seja com artigos, podcasts, livros, eventos, vídeos, mentorias ou conversas de corredor, cada um tem uma forma de contribuir. E todas são válidas.

Compartilhar conhecimento não diminui ninguém. Pelo contrário, multiplica.

A indústria de esportes, entretenimento e cultura precisa de mais referências, de ideias novas. Se queremos ver essa indústria mais forte, precisamos fortalecer também o conteúdo que a sustenta.

Esse livro é a minha pequena contribuição e também um convite.

Ivan Martinho é presidente da World Surf League (WSL) na América Latina