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Contas de Augusto Melo no Corinthians são reprovadas após passivo crescer em quase R$ 830 milhões

Aumento do passivo do clube equivale a mais de 20 vezes o total arrecadado na "vaquinha" que tenta saldar a dívida da Neo Química Arena

Augusto Melo, presidente do Corinthians, participa de entrevista coletiva - Rodrigo Coca / Agência Corinthians

Augusto Melo, presidente do Corinthians, participa de entrevista coletiva - Rodrigo Coca / Agência Corinthians

A gestão do presidente do Corinthians, Augusto Melo, teve suas contas relativas ao ano de 2024 rejeitadas pelo Conselho Deliberativo do clube.

A reprovação, ocorrida nesta segunda-feira (28), segue orientação do Conselho de Orientação (Cori) e ocorre após o passivo do clube haver crescido R$ 829 milhões no período.

Esse total equivale a mais de 20 vezes o montante que foi arrecadado na “vaquinha” virtual promovida pela torcida organizada Gaviões da Fiel, com a finalidade de ajudar a quitar a dívida de cerca de R$ 700 milhões do Corinthians com a Caixa, contraída para a construção da Neo Química Arena, que foi palco da abertura da Copa do Mundo de 2014.

Até o momento, a campanha (que já dura 153 dias e terminará no próximo mês) conseguiu amealhar um montante de R$ 40.127.210,65, fruto de 884.859 doações.

A dívida efetiva do clube, segundo o Cori, registrou um salto de R$ 600 milhões em 2024. Durante a análise das contas no Conselho Deliberativo, 130 membros votaram pela reprovação, enquanto 73 se posicionaram a favor de Melo. Houve ainda seis abstenções.

A reprovação das contas representa mais um momento dramático na já turbulenta gestão do mandatário corintiano e pode motivar um novo pedido de impeachment contra o presidente.

Contingência

Conforme noticiou a Máquina do Esporte, na última sexta-feira (25), o Corinthians divulgou uma auditoria externa, realizada pela GF Brasil Auditoria & Consultoria, que ressaltou que o clube deixou de mostrar uma contingência tributária de R$ 191 milhões no balanço de 2023, último ano da gestão do ex-presidente Duilio Monteiro Alves.

Uma contingência tributária não é necessariamente uma dívida, mas configura uma situação de risco relacionada a tributos, que podem ou não se concretizar, dependendo de algum evento futuro, como uma decisão judicial desfavorável. Nesse caso, o clube estaria sujeito a pagar tributos atrasados, multas ou juros.

VaideBet

As constantes turbulências enfrentadas por Augusto Melo remontam à disputa eleitoral ocorrida em 2023 e que culminou na derrota do grupo “Renovação e Transparência”, liderado pelo ex-presidente Andrés Sanchez.

Logo ao assumir o mandato, o novo presidente anunciou o acordo com a casa de apostas VaideBet, com três anos de duração e que renderia R$ 370 milhões ao clube, representando o maior contrato de patrocínio máster da história do Brasil à época.

Em breve, porém, a situação passaria da euforia para o caos, já que o patrocínio da VaideBet passou a ser alvo de denúncias, por conta da existência de intermediação no negócio, fato que, inicialmente, não havia sido admitido pela diretoria corintiana. O acordo com a marca acabou sendo rompido.

Guerra política

Melo também acabou rompendo com seu maior aliado e fiador de sua eleição, Rubens Gomes, o Rubão, que deixou o cargo de diretor de futebol.

Para agravar ainda mais a situação, Melo vive uma guerra nos bastidores com o presidente do Conselho Deliberativo do Corinthians, Romeu Tuma Júnior.

Ao longo do ano passado, o mandatário enfrentou a ameaça de impeachment, que acabou perdendo força depois que o time conseguiu alcançar bons resultados em campo, saindo da zona de rebaixamento da Série A do Brasileirão e conquistando uma vaga na fase preliminar da Copa Libertadores de 2025.

Neste ano, apesar de haver conquistado o Paulistão, o clube vive uma forte inconsistência nas demais competições. O Corinthians foi eliminado da Pré-Libertadores pelo Barcelona de Guayaquil (EQU). No último fim de semana, foi goleado pelo Flamengo no Brasileirão por 4 a 0.

A situação complicada dentro de campo acaba por reforçar a instabilidade política no clube. Entre os pontos alegados pelo Conselho Deliberativo para rejeitar as contas de Melo estão a não apresentação do contrato do atacante holandês Memphis Depay, a falta de publicação de balancetes mensais e até mesmo a ausência de um demonstrativo referente à utilização dos R$ 150 milhões captados pelo Corinthians com a corretora XP Investimentos, como garantia pelo contrato de direitos de transmissão fechado com a Liga Forte União (LFU).

Vale lembrar que, também na última sexta-feira (25), o diretor financeiro Pedro Silveira pediu demissão do cargo, alegando, segundo o clube, “questões médicas”.

Silveira estava no Corinthians desde julho de 2024. Em 2023, chegou a se candidatar ao Conselho Deliberativo do clube, mas acabou não sendo eleito.