Gaviões da Fiel não é a única: Conheça outras torcidas que pagam estádios para os próprios times

Torcida organizada Gaviões da Fiel lota a Neo Química Arena em jogo do Corinthians - Jose Manoel Idalgo / Corinthians

A Gaviões da Fiel, principal torcida organizada do Corinthians, assinou o protocolo de intenções com a Caixa, para a quitação da dívida contraída pelo clube junto ao banco público para a construção da Neo Química Arena.

A cerimônia ocorreu em Brasília (DF), nesta sexta-feira (18), e contou com as presenças de dirigentes da organizada e do clube, além do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e do presidente da Caixa, Carlos Vieira.

A Gaviões realizará uma “vaquinha”, em que torcedores de todo o Brasil poderão realizar depósitos em uma conta pix (cujo número ainda será divulgado), em uma operação feita em parceria com o Corinthians e a Caixa. O objetivo é arrecadar recursos para dar fim à dívida contraída pelo clube para a construção do estádio, que foi escolhido como sede da abertura da Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil.

A inauguração do estádio coincidiu com um período em que a equipe acumulou sucessos dentro de campo e fora dele, com contratos milionários de patrocínio e de direitos comerciais e de transmissão.

O problema é que, quando o contrato foi firmado, a dívida do time com a Caixa estava em R$ 400 milhões. Atualmente, ela gira em torno de R$ 700 milhões, comprometendo a capacidade de investimento do clube que, mesmo possuindo o segundo maior faturamento do país (em 2023, as receitas alcançaram o valor recorde de R$ 1 bilhão), não tem sido capaz de montar elencos competitivos, amargando péssimos resultados nas competições que disputa.

No total, o Corinthians acumula R$ 1,96 bilhão em dívidas, incluindo o financiamento com a Caixa para a construção do estádio.

O plano de quitação da arena, encabeçado pela organizada, deve trazer um alívio para o clube, embora ainda exista um longo caminho a ser percorrido até que o problema da dívida seja, enfim, superado.

Apesar de representar um caso pioneiro no Brasil, a solução encontrada pela Gaviões da Fiel não representa o único exemplo no mundo em que uma torcida pagou o estádio para o clube. Abaixo, a Máquina do Esporte reuniu outras histórias em que os fãs foram chamados para ser protagonistas na missão de garantir uma casa para o time do coração jogar.

St. Pauli

Na prática, todas as torcidas pagam (ainda que por tabela) os estádios de seus clubes, na medida em que são as principais geradoras de receitas para essas instituições.

Em casos como o da Gaviões da Fiel, porém, a torcida assumiu o protagonismo na iniciativa para garantir que o clube se livre da dívida contraída para a construção do estádio.

Em Hamburgo, na Alemanha, um clube que conquistou recentemente o acesso à Bundesliga, principal divisão do futebol do país, também resolveu mobilizar seus torcedores em torno de um plano que envolve o estádio e a arrecadação de recursos.

Conhecido por apoiar causas sociais e bandeiras mais à esquerda, como a inclusão das pessoas LGBTQIA+ e o combate ao racismo, o St. Pauli é considerado um dos clubes “kult” da nação europeia (do alemão Kultvereine). Esse termo se refere a times que, mesmo não sendo os mais vitoriosos ou badalados, acabam contando com forte admiração em todo o país por tudo aquilo que representam e defendem.

O St. Pauli não aceita patrocínios de casas de apostas ou de empresas que contrariem seus princípios, postura que difere da de seus adversários (um exemplo clássico é o Borussia Dortmund, que possui contrato de patrocínio com a fabricante de armas e munições Rheinmetall).

A fidelidade a esses ideais, porém, custa caro ao St. Pauli, que conta com estrutura e elenco bem mais modestos que os de seus concorrentes. A folha salarial do time equivale, por exemplo, a 4% da do Bayern de Munique.

Para se capitalizar e ser competitivo, o clube de Hamburgo optou por recorrer a seu principal patrimônio material, o Millerntor-Stadion, que foi inaugurado em 1961 e tem capacidade para 29 mil torcedores.

O St. Pauli venderá o estádio, mas não para qualquer comprador. A fim de garantir que continue a ter uma casa para chamar de sua, o clube anunciou, nesta semana, o lançamento de uma cooperativa de torcedores, que assumirão o controle do Millerntor-Stadion.

Na prática, a cooperativa funcionará como uma sociedade por ações. Caso deseje, o proprietário poderá vender sua parte, mas apenas pelo preço que pagou no ato da compra. Independentemente de quantas cotas o torcedor possua, ele só terá direito a um voto nas assembleias.

O St. Pauli pretende selecionar os compradores das cotas, a fim de garantir que eles estejam alinhados aos interesses do clube. A ideia é arrecadar € 30 milhões (R$ 185 milhões, pela cotação atual) com a cooperativa.

O clube continuará a receber as receitas com bilheteria, porém terá de pagar aluguel à cooperativa em um valor mais amigável, já que a iniciativa não visa ao lucro.

Vale lembrar que a ideia é encontrar outras fontes de receita (como shows, feiras e demais eventos), de modo a garantir dinheiro para que o estádio receba a manutenção necessária, ao mesmo tempo em que o time possa continuar a utilizar a casa, pagando um preço acessível.

Green Bay Packers

Estruturado como uma Sociedade Anônima (S.A.) fechada e sem fins lucrativos, o Green Bay Packers, que disputa a National Football League (NFL) e foi, inclusive, um dos protagonistas do primeiro jogo da liga realizado no Brasil, diante do Philadelphia Eagles, no mês passado, é outro exemplo de equipe que mobiliza torcedores para realizar investimentos em seu estádio, o Lambeau Field, cuja capacidade é de 81 mil torcedores.

O Green Bay Packers realiza, de tempos em tempos, emissões primárias de ações, com o objetivo de captar recursos junto aos torcedores, que não são investidores. Ou seja, eles não podem vender para terceiros sua participação na equipe nem ser remunerados com dividendos.

Quando há lucro, o dinheiro é obrigatoriamente reinvestido no próprio time, de modo a garantir que ele seja competitivo na próxima temporada.

Na prática, a propriedade das ações dá aos torcedores o direito de votar nas assembleias de acionistas, ajudando a definir os rumos do time e a escolher seu presidente.

As regras da Sociedade Anônima do time norte-americano também limitam a quantidade de ações que cada indivíduo pode comprar, de modo a evitar que um investidor ou grupo econômico assuma o controle da equipe.

Em sua última emissão primária, realizada em 2021/2022, o time conseguiu captar US$ 66 milhões (algo em torno de R$ 366 milhões, pela cotação atual), junto a 176.160 torcedores, que pagaram US$ 300 por ação.

Hoje, a equipe conta com 537 mil acionistas individuais. Esse montante foi investido, em grande parte, em obras de melhorias no Lambeau Field.

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