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CBF, Corinthians e o peso da política no negócio

Ednaldo Rodrigues (presidente da CBF) e Augusto Melo (presidente do Corinthians) posam para foto - Staff Images / CBF

Em um único dia, Ednaldo Rodrigues voltou a ficar na corda bamba na presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), enquanto Augusto Melo teve um pedido de afastamento do comando do Corinthians protocolado por um conselheiro.

Os dois casos são emblemáticos. Eles mostram como a política é, ainda, quem guia o destino de duas das instituições que mais movimentam dinheiro no mercado da bola brasileiro.

Desde que Ednaldo retomou, à força, o poder na CBF, a entidade vive um entra e sai de executivos. O mais estrelado deles, obviamente, é o treinador do time nacional. Mas, para dentro das portas da entidade, diretores das mais diferentes áreas têm dado lugar a novas caras em um movimento sem precedentes.

LEIA MAIS: O que acontece com a CBF caso Ednaldo Rodrigues seja afastado da presidência

Já no Corinthians, Augusto Melo tem ficado cada vez mais isolado politicamente. E isso respinga na gestão do clube. Depois da saída da consultoria da Alvarez & Marsal, que levou com ela Fred Luz, o até então CEO alvinegro, a indicação de conselheiros influentes para cargos estatutários passou a ser regra. E, junto a esse movimento, o Corinthians tem tirado executivos que estavam no dia a dia da instituição para colocar outros indicados pelos novos diretores estatutários.

A movimentação nos bastidores de CBF e Corinthians acaba refletindo nas finanças das duas instituições e, especialmente, no descaso com o destino de recursos.

Na semana passada, as contas do Corinthians apresentadas por Melo foram reprovadas pelos conselheiros. O crescente déficit, que escalou mais de R$ 600 milhões em 2024, pesou ainda mais contra o mandatário alvinegro. No dia da reprovação dos números, o diretor financeiro do clube pediu para se afastar do cargo. Na sequência, diversos executivos que estavam há alguns anos no Corinthians foram demitidos.

Também na semana passada, as contas da CBF foram aprovadas por unanimidade pelas federações e clubes. Ninguém questionou Ednaldo o porquê de a entidade ter colocado em caixa R$ 1,5 bilhão graças ao adiantamento dos dois anos finais do contrato com a Nike e as luvas do próximo acordo com a marca norte-americana. Aplaudiram o dirigente, mas não perguntaram se não seria possível usar uma parte dessa grana para investir em várias melhorias que poderiam ser feitas para o futebol nacional.

Em nenhum negócio do mundo uma empresa que aumenta em mais de meio bilhão de reais sua dívida segue sendo administrada de forma ordenada e com perspectivas de ganhos futuros. Da mesma forma, nenhuma empresa que tem R$ 2,4 bilhões em caixa não usa parte dessa contingência para ter os melhores executivos do mundo e prosperar ainda mais.

Só o esporte, com sua estrutura política, é capaz de jogar a gestão para escanteio. CBF e Corinthians mostram que, enquanto não se mudar a mentalidade de gestão das entidades esportivas, tanto faz se há ou não dinheiro em caixa. As decisões serão tomadas de forma que o produto final nunca esteja a contento do consumidor.

Os clubes europeus já entenderam que essa é a chave para a virada do futebol como negócio. A política ainda existe, mas a interferência dela, na gestão, é a menor possível. O dirigente está lá para aproveitar, em um lugar privilegiado, da emoção do esporte. E os executivos são os responsáveis por entregar o melhor produto possível para o público.

Por aqui, seguimos achando que a política é quem guia o negócio. E, assim, os políticos que estão presidentes de entidades até ficam em um lugar privilegiado, mas sofrendo pressão o tempo todo por não enxergarem que o melhor negócio, quem faz, não são eles.

Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo